São 180 minutos de cinema com qualidade exuberante, por vezes, até asfixiante. Este era o único filme do "enfant terrible" Kubrick que eu não havia assistido. Tenho de admitir que perdi muito em não tê-lo visto e revisto antes. Após ter me deleitado inúmeras vezes com "2001, uma odisséia no espaço", achava ser impossível um diretor consigar filmar algo que chegasse aos pés de sua maior (e da própria história do cinema) obra-prima. O roteiro de autoria do diretor foi baseado no livro de William Makepeace Thackeray, e conta as aventuras de um jovem, belo e pobre irlandês, Redmond Barry (Ryan O´Neal) que após participar de um duelo contra um oficial do exército inglês, se vê obrigado a refugiar-se em Dublin. Sua mãe lhe dá todas as suas economias antes de sua fuga. No trajeto Redmond é assaltado com toda a polidez do mundo, numa cena engraçadíssima. Aliás, esse é outro mérito de Kubrick, o humor por trás da maioria dos personagens. Não devemos esquecer também que ele conseguiu fazer do rosto bonitinho de Ryan O´Neal (aquele mesmo de Love Story) um bom ator. Redmond participa da guerra dos 7 anos entre a Inglaterra e a França. Ele passa por mensageiro inglês - que tinha livre acesso a qualquer território com o pretexto de levar documentos importantes - como uma forma de deserção do exército. Mantém um caso amoroso com uma bela jovem holandesa até que é pego com a boca no botija por um oficial prussiano (Hardy Kruger). Redmond tem agora que lutar pelo exército da Prússia, um dos que pior tratava os seus oficiais. No entanto, pelo fato de ter salvado o oficial prussiano que o denunciou, ele ganha condecoração, dinheiro e um trabalho de espião. Sua missão é averiguar as atividades ilícitas do Chevalier de Balibari (Patrick Magee). No final das contas os dois tornam-se amigos e comparsas no carteado. Redmond é o serviçal que fica de olho no jogo nas mãos das maiores autoridades européias, que tentavam superar o famoso Chevalier de Balibari. Ao fugir da Prússia, o nosso Macunaíma europeu do século XVIII decide que irá casar-se com uma mulher rica. Flerta, então, com a milionária Lady Lyndon (Marisa Berenson), que nessa altura ainda era casada com o moribundo Sir Charles Lyndon (Frank Middlemass). Eles vieram a contrair núpcias (bonito, hein?) um ano após o falecimento de Sir Charles. As coisas seriam ótimas não fosse pela presença do filho de Lady Lyndon, Lord Bullingdon (Leon Vitali), de 7 anos de idade. Ele foi a pedra no sapato de Redmond durante o resto de seus dias. Após um período epicurista, Redmond retoma a sua paixão pela esposa, que culmina com o nascimento de seu filho. No entanto, a felicidade não vai durar para sempre. A parte técnica do filme é impecável. A música de Leonard Rosenman (com um tema de Handel, que é a marca registrada do filme); a fotografia de John Alcott; o figurino de Milena Canonero. Todos, por sinal, agraciados com o Oscar de 1975. Nunca o período vitoriano foi tão brilhantemente descrito como em "Barry Lyndon", magnífico exemplo de que o cinema é a maior das artes por ter a possibilidade de unir literatura, pintura, história e teatro no seu bojo.