Sob a torrente de humor e dança, existe uma constatação amarga. Que ninguém mais se lembra dos Muppets. Essa é talvez a "triste realidade" que sustenta o filme do começo ao fim, como uma espécie de esqueleto narrativo.
Sua trama é simples. Walter, um fanático pelos Muppets, é convidado pelo seu irmão Gary para visitar o Teatro Muppet e seus estúdios, em Los Angeles. Isso numa época em que Caco e sua turma nada mais eram que uma moda ultrapassada, assim como hoje. Tudo bem, o teatro está decadente, empoeirado, caindo aos pedaços. Os personagens se viram como podem, espalhados pelo mundo e pelo vento da própria sorte. Mas é um magnata do petróleo que entra em cena, vivido pelo ótimo ator Chris Cooper [de Beleza Americana, 1999, e O Patriota, 2000], que faz a história dar uma reviravolta impressionante.
É claro que a turminha de bonecos criada pelo genial manipulador de marionetes norte-americano Jim Henson (1936-1990) não está tão esquecida assim, como sugere o longa. Mas é incrível ver como a história conduz os personagens a rirem do próprio ostracismo, a rirem até de uma suposta incapacidade de fazerem mais parte da atualidade. O filme poderia muito bem cair numa espécie de lugar-comum nostálgico, lamuriento e chato, porém isso não ocorre.
O velho e irretocável humor pastelão está lá, o romance fofo e kitsch entre o sapo Caco (ou Kermit, na versão americana) e a porquinha Piggy continua impagável. Enfim, tudo aquilo que fez da criação de Henson tornar-se num tipo de paródia do estilo televisivo dos EUA e do brilho purpurinado das estrelas hollywoodianas continua pungente e único, apesar dos anos.
Essa é a "pegada" que torna o filme extremamente interessante. O exagero é utilizado do começo ao fim como uma componente extra de recurso de linguagem. As coreografias dão uma atmosfera retrô, de filme Disney dos anos 80 ou até mesmo de clássico MGM da década de 50. A graça do filme é justamente esse tom "datado". O mantra exaustivamente repetido "esqueceram da gente" é a mola propulsora do enredo, que faz os Muppets voltarem à cena, varrendo o esquecimento e trazendo toda e mesmíssima poética que o consagraram no final dos anos 70 até hoje.
Em outras palavras, o ponto forte do filme é esse proposital "anacronismo".
Em um mundo onde estilos consagrados sofrem as mais inusitadas concessões para garantir a sobrevivência, Os Muppets parecem ironizar isso de modo velado e sutil. A moda hoje é filmes com muitos efeitos especiais? Homens explodindo? Vampiros que brilham e falam coisas fofas? Bruxos urbanos? Pois bem. Os Muppets aparecem sem muitos retoques. O que a câmera foca é um boneco de pano manipulado por pessoas, sem brincadeiras exóticas de luz, nem truques de computação gráfica.
Estamos acostumados a ver as coisas se descaracterizando, tendo por desculpa esses estranhos ventos da modernidade. Os desenhos engolindo cada vez mais a linguagem ágil dos videogames; os épicos cada vez mais se diluindo numa amálgama pop.
Mas veja a proposta a bem dizer "conservadora" do filme. As piadas ingênuas alimentadas pela verve hiperbólica característica do mundo inventado por Henson fazem do filme um corpo estranho ao momento cinematográfico que vivemos hoje, em linhas gerais.
Mas será isso importante? Para mim? Para você?
É indiscutível que os bonecos roubam a cena, ainda que por instantes. Para os cinéfilos mais razoáveis, os Muppets envelheceram bem. Para os apaixonados, assim como o Walter, o mundo mágico dos bonequinhos de pano é sem idade, é eterna. E que, diante das mudanças de modas cinematográficas ditadas pelas leis de mercado, Caco surge com uma ambição "reacionária": é rindo do próprio ostracismo que os Muppets provam que ainda confiam no próprio taco.