Em "Independence Day", as capitais mais importantes do mundo são destruídas durante um ataque alienígena. Em "O Dia Depois de Amanhã", furacões e uma nova era do gelo assolam o Hemisfério Norte do nosso planeta. E em "2012" o mundo é literalmente destruído após uma catástrofe "anunciada" no calendário maia. O que esses três filmes têm em comum? Ambos têm o mesmo diretor, o alemão Roland Emmerich, que parece fissurado em destruir o mundo onde vive.
O roteiro de "2012" é escrito pelo próprio Emmerich e por Harald Kloser, compositor das trilhas sonoras de "O Dia Depois de Amanhã", "Alien vs. Predador", entre outros. É uma história simples, que gira em torno de uma família que tem que deixar tudo para trás para escapar da destruição iminente. Na trama, cientistas descobrem, em 2009, que o núcleo da Terra está ficando instável devido às erupções solares, e que a crosta entrará em colapso em pouco tempo. Três anos depois, em dezembro do ano-título, a crosta terrestre começa a se deslocar, causando terremotos, erupções e tsunamis nunca antes imaginados.
O escritor Jackson Curtis (John Cusack), que ainda não consegue se sustentar completamente com seu hobby e tem que trabalhar também como motorista de limusine, pega seus filhos para passar o final de semana com ele. Ele os leva para o antigo parque Yellowstone, agora estranhamente cercado e sem água. Nas montanhas de Yellowstone, Curtis conhece Charlie Frost (Woody Harrelson), um excêntrico radialista teórico do fim do mundo. Frost explica que o mundo está prestes a ser destruído, mas o governo está criando arcas para salvar os mais ricos e escondendo os fatos para não criar alarde. Incrédulo no começo, Curtis logo é convencido dos fatos por um terremoto arrasador, e volta à Yellowstone para pegar o mapa que Frost guardara sobre o paradeiro das arcas. A partir dali, é uma luta contra o tempo para escapar do caos que toma conta do planeta.
Se em "O Dia Depois de Amanhã" havia uma mensagem ambientalista, alertando para os riscos do aquecimento global, em "2012" simplesmente não há mensagem nenhuma. O roteiro apenas toma como base o calendário maia, que se tornou uma profecia de fim do mundo, para criar um filme-catástrofe praticamente vazio do ponto de vista narrativo, mas empolgante e arrebatador no que concerne à ação. Devido à sua temática, acabou aumentando ainda mais o temor (inconcebível) de uma catástrofe ao final do ano de 2012. Mas nada que assuste os mais conscientes e inteirados do assunto.
O roteiro é um pouco fraco. Os personagens são mal desenvolvidos, não nos permitindo temer por seus destinos. A desprezo inicial do filho com o pai é já é um clichê, tendo se tornado recorrente nos filmes atuais. Assim como a relação do homem com sua ex-mulher, com os ambos ainda gostando um do outro. Desde o início é possível perceber quem vai morrer e quem vai sobreviver no final, devido à superficialidade da trama. Mas o que realmente incomoda são os furos graves do roteiro. Logo no começo nos deparamos com um ar de verão, com um dia ensolarado e os personagens usando roupas leves. E nem sinal do Papai Noel. Sendo 21 de dezembro nos Estados Unidos, é início de inverno. Normalmente neve já está presente, e a maioria das casas está decorada com motivos natalinos. Mas o roteiro de Emmerich e seu ajudante compositor simplesmente esquece esse detalhe, que não podia ter passado despercebido. Em outro momento, uma reportagem anuncia a suspensão das Olimpíadas de Londres, devido à destruição da cidade. Os jogos olímpicos de 2012 acontecem realmente em Londres, mas como sempre, entre os meses de julho e agosto, e não em dezembro. Falha deles.
O que realmente salva o filme são suas cenas de ação. A adrenalina presente nas cenas não nos permite desgrudar os olhos da tela, temendo cada explosão ou fuga no último instante como se estivesse acontecendo com nós mesmos. A destruição das cidades é filmada com planos aéreos impressionantes, que nos permitem visualizar cada detalhe sem cortes abruptos e montagem acelerada. Os efeitos especiais são soberbos na maioria das vezes, marca registrada de filmes-catástrofe. Mas falham em alguns momentos, mostrando-se mais como cenas de video game, nos afastando um pouco da realidade do filme.
Estendendo-se um pouco mais do que o necessário (158 minutos), "2012" é um belo exemplar dos filmes-catástrofe. Ao final da projeção, há uma certa sensação de exaustão, devido ao bombardeio de adrenalina das cenas, mas nada que se torne cansativo. Mesmo não sendo seu melhor trabalho como roteiro, Roland Emmerich ainda merece créditos por criar cenas de ação grandiosas e espetaculares. Obviamente o mundo não vai acabar em 2012, como dizem os conspiracionistas. Mas Emmerich, se quiser continuar fazendo seus filmes-catástrofe, terá que escolher outro planeta, já que já destruiu a Terra por vezes suficientes.