Não dá para badalar Roland Emmerich. Por mais que seus filmes sempre consigam sucessos expressivos de bilheteria (muito acarretado por uma campanha publicitária agressiva), raramente consegue realmente atingir níveis satisfatórios, que seja no quesito diversão (mas quem disse que não dá para se divertir com obras relevantes e boas?). Seu melhor filme até hoje é Independence Day, aquele filme protagonizado por Will Smith em que o diretor coloca seu presidente, caracterizado por Bill Pullman em um caça para sair destruindo os invasores do planeta Terra.A destruição do planeta, aliás, é objeto de obsessão do diretor/artesão. Já teve monstro japones ameaçando a América (e porquê não, o mundo), os et's e posteriormente, os problemas climáticos. Com 2012 ele vai profundamente, literalmente, para encontrar novas situações que colocam o planeta em risco (sim, já vimos essa história antes). Acusar a fragilidade do roteiro é bobeira. Até porque, a última coisa que o filme quer ser é original, inteligente e genuíno. Pouco importa os personagens unilaterais, basta colocar 30" de um diálogo, para justificar que um personagem está apresentado e poder mostrar sua desesperadora morte, a partir de uma cena de grande impacto (caso, por exemplo, de um personagem que acompanhamos por pequenos trechos de cenas, que está juntamente com o pai de um dos personagens, em um cruzeiro tocando - liga para retomar o contato com o filho que não fala há muito tempo, em um claro momento de redenção, mas acontece um pouco tarde). Não se surpreenda por lembrar de algum outro filme. Ou de em determinado momento, imaginar que Bruce Willis irá aparecer em cena e salvar o mundo sacrificando sua vida, e ao fundo, tocará uma música do Aerosmith. Este é um outro filme. Há uma mescla também com Tommy Lee Jones, que está no meio da rua, com chamas voando para todos os lados, enquanto a cidade é tomada e destruída, onde ele salva sua filha, ileso. Tudo isso será revisto e terá um final mais feliz nesse filme, trocando essas peças por John Cusack. Deixando as ironias de lado, o roteiro é um clichè monstruoso. E isso não é o problema. Afinal, quantos filmes ótimos, são estruturados nos mais velhos e tolos clichès do cinema? E os diálogos horríveis? Constragem, está certo. E o personagem do Woody Harrelson, que parece diretamente saido do spielberguiano Guerra dos Mundos? Copiar é tendência. Difícil é ser tão bom quanto o original. Mas tudo isso, não é o que incomoda nesse filme. Sequer o presidente ser um sujeito da mais pura e singela moral do mundo e que se sacrifica pelo bem maior da população, é ruim - até já funcionou em um outro filme do diretor. Mas afinal, qual é a verdadeira derrapada do filme, que faz dele o show de horrores que é? Simples. Parece uma idéia vazia. É a sobra do que restou dos filmes catastrofes da década de 90, dentre eles os já citados Armageddon e Volcano e seus similares da época, e estes, por sua vez, já eram esqueletos dos filmes de desastres de antigamente. Ou seja, temos um forte argumento (o fim do mundo, tem algo mais perverso?), mas não existe medo. Qual é a real graça de ver um monte de gente sendo destroçada, arrebentada, queimada, cheias de sadismo visual, sendo que ninguém em cena é capaz de demonstrar meia emoção que seja? O que é o cinema sem a emoção? Existe um fiapo de história da relação dos personagens, mas tudo é jogado na tela sem propósito, e na sequencia, quando o filme vai ajustar, se coloca em pior situação ainda. O que mais me incomoda em algo, é quando algo forte que acontece, não mexe com as pessoas/personagens. Como alguém pode, por exemplo, perder um pai, e não se abalar e na sequencia, já estar pensando em se relacionar com uma outra pessoa, que também não tem emoção alguma na perda que também tem? Ninguém pensa em ninguém. E isso não é uma critica que o filme faz, na verdade, é a própria inconpetencia de se estabelecer momentos introspectivos e reflexivos. Lembro aqui, por exemplo, de um filme que consegue chegar na mistura ideal de ação e contemplação, o Dawn of the Dead - onde na onda dos acontecimentos, se vêem pressionados a salvarem suas vidas, mas existe espaço para sentirem suas perdas, o que lhe engrandece. Podem dizer que o filme é mera diversão, mas não consigo desligar o cérebro, que vive em constante funcionamento.