Cataclisma Mundial
por Francisco RussoOs filmes catástrofe começaram a fazer sucesso nos anos 70, seguindo a fórmula de um elenco estelar para ofuscar os na época limitados efeitos especiais. Assim foi Terremoto, Aeroporto, Inferno na Torre e outros tantos. Nos anos 90 eles ressurgiram, sob nova fórmula: efeitos maravilhosos, onde praticamente tudo era possível, e um elenco nem tão conhecido assim. O que contrabalançou o orçamento, já que salários astronômicos deixaram de ser pagos em detrimento de um maior gasto com a parte técnica. Neste período, um diretor em especial se destacou: Roland Emmerich. Mas pode chamá-lo de "sr. destruição".
Dos seis últimos filmes por ele dirigidos, apenas um não trazia como mote a destruição do mundo, ou de parte dele: O Patriota. De Independence Day a 10.000 A.C., seu trabalho sempre foi mais voltado às cenas de ação do que propriamente ao desenvolvimento de uma história. 2012 não é diferente. Como cinema pipoca, funciona bem. Os efeitos especiais são espetaculares, com impacto ainda maior em uma sala de cinema. É filme para ver em tela grande e som potente, sem sombra de dúvidas. O problema é o que fazer entre as diversas cenas de ação.
Há muito de O Dia Depois de Amanhã em 2012, a começar pela mola mestra da trama: um cataclisma inevitável, que faz com que a humanidade tenha que se virar para sobreviver. Se antes o culpado era o clima, agora é uma conjunção astral que faz com que explosões solares desestabilizem a crosta da Terra. Complicado? Nem tanto. Não há a menor intenção em justificar o ocorrido, o simples ato é suficiente. O prenúncio vindo do calendário maia é apenas mencionado, também sem grande desenvolvimento. A grande verdade é que tudo não passa de desculpa para que Emmerich possa fazer o que sabe melhor: destruir tudo. E desta vez em escala global, com monumentos e locais nunca antes demolidos pelo diretor. Entre eles, o Rio de Janeiro e seu ícone maior, o Cristo Redentor.
A semelhança também vem com o fato de que, assim como O Dia Depois de Amanhã, não há aqui um inimigo visível e que possa ser combatido. A inevitabilidade faz com que reste à humanidade apenas uma saída: buscar, a todo custo, sobreviver. Neste sentido, há aspectos interessantes na trama, em especial a influência do lado capitalista no plano de fuga traçado. Nem tanto por sua existência, mas pela forma realista como é apresentada. O contraste com ideais nobres e humanitários, apesar de previsível, merece atenção.
Só que, em meio a tantos prédios desabando, ondas gigantes e crateras abertas no solo, há uma série de situações e diálogos que beiram o ridículo. Cenas constrangedoras, como a da salvação do cachorro, que fazem com que se torça para que a próxima cena de ação venha logo. Não pela expectativa do que vem a seguir, mas para que o espectador seja poupado de momentos lacrimosos ou exagerados, onde os clichês predominam. É este desnível que prejudica 2012. Se por um lado há a excelência no apuro técnico, há também o descaso com o roteiro.
Apesar disto, está longe de se aproximar dos piores casos apresentados por Emmerich. Mantendo sua tradição de alemão que exalta o patriotismo americano, estão lá a nobreza do presidente e a valorização dos Estados Unidos na nave de fuga - é a única bandeira pintada no casco, preste atenção. Já os personagens, bem, eles não são tão importantes assim. Há o pai que consegue reunir a família em meio à catástrofe, o cientista preocupado com o bem da humanidade, aquele que acredita em teorias conspiratórias constatando a veracidade das informações que obteve, o empresário egoísta, a namorada descartável e interesseira... nada de propriamente novo. Mas este também não é o objetivo. 2012 segue à risca a fórmula dos filmes catástrofe, explorando - e bem - seus efeitos especiais. Para o que se propõe, é o suficiente.