Alguém já deve ter ouvido outra pessoa dizer que estava no lugar errado na hora errada? Pois é, começo esse texto dizendo que foi a história certa para diretor errado. De uma história biográfica, com vários nuances de fantasia, psicologia, trama, drama e segredos, Tim Burton faz da história de Margaret Keane, uma mistura de algo com aquilo, que acaba resultando em nada.
Tinha muito interesse nesse filme, assim como tinha interesse no filme de Frida Kahlo, uma história voltada para a arte, que mostra a arte e que debate a arte. Dentre tantos assuntos possíveis ou linha que possa ser seguida para mostrar no filme, o diretor inova não inovando.
Se você pegar a filmografia de Tim Burton, vai perceber que existe certa criatividade explicita, ou até, uma fantasia latente e efervescente. Assim como no filme de Frida onde as pinturas se mesclam com o filme sem perder a credibilidade da obra, imaginava que Tim Burton poderia seguir essa linha, não copiar a obra de outro diretor, mas tê-la como exemplo, e se mostrar criativo da mesma maneira como tem mostrado e mesmo assim, deixar a cinebiografia da artista verídica e com teor de credibilidade fantástico.
Mas dentro de sua loucura cerebral, Tim, tenta inovar fazendo algo linear, reto e estereotipado, e acaba por sair da linha da trama se aproximar de uma comédia. É difícil falar sobre esse filme, pois, ele possui algumas pontas sem desfecho, como por exemplo, o feminismo que pode ser reparado logo no começo do filme, e não se desenrola no passar do filme, ou quem sabe a questão da obra de arte virar algo corriqueiro, que se possa vender em qualquer loja de conveniência. E até agora não entendi esses personagens comuns, um vilão, uma mocinha indefesa, o critico mal humorado e destruidor de sonhos e até o dono da galeria rival é um esboço comum no cinema.
Essa linearidade gigantesca elimina qualquer boa atuação de seu casal de atores principais. Amy Adams, ainda consegui desenvolver uma simplicidade e tristeza através de seu olhar, o que representa bem o seu papel na interpretação da esposa inocente. Christoph Waltz chega ser um pouco repugnante, às vezes, com aquela encenação toda de seu Walter, o que já era de se esperar. Mas, talvez, a falta de informações e um trabalho mais acentuado no entendimento dos dois personagens, possa ter atrapalhado os dois, que, acabaram por fazer o que sabem de melhor.
Portanto, ainda insisto que é a história certa para o diretor errado, pois, dentre todas as possibilidades de criação, estratégia e produção, Tim Burton tenta inovar com algo que foge de sua genialidade criativa. Consequentemente, o filme se mostra não somente incapaz de definir algo como entender os personagens complexos como são os dois, Walter e Margaret, e sim, não entrar nem no mérito de tentar compreender nem que seja superficialmente.