O planeta Terra está super povoado e não há mais recursos naturais. Um planeta semelhante à Terra é descoberto e assim como formas de vida vegetal que podem assim dar uma nova esperança para aqueles que no mundo não mais sentem segurança de sobrevivência. Assim uma nave é lançada rumo a este novo mundo, essa cidade do Sol ou Utopia, lembrando obras de Campanella e Morus, para assim fundar uma sociedade justa e igualitária, e possível de sobrevivência. O crescimento da população mundial forçou essa alternativa e milhares de pessoas forma levadas por essa nave (chamada Elisyum), em um hipersono, a fim de acordarem um dia no novo mundo. Lembra-nos assim as grandes navegações, que foram semelhantes a viagens espaciais colonizadoras, com Colombo e seus auxiliares vários. Mas algo dá errado, a doença Pandorum perturba a tranquilidade de muitos e ainda há acompanhantes misteriosos e perigosos na nave. A regra de Darwin mais uma vez funciona, e apenas os mais aptos sobrevivem.
Acordar do hipersono já é um simulacro de um parto, pelo sofrimento e a dificuldade em se respirar. A nave é um grande útero, uma arca de Noé, onde toda a esperança de vida está ali concentrada. O esquecimento é um sinal também de uma nova vida, assim como a reencarnação anuncia uma nova missão, com novo nome, com esquecimento de experiências anteriores. O local é misterioso e a busca principal é a da liberdade, sendo um deserto de metal coberto de feras mutantes e canibais. Esses mutantes foram aqueles que se adaptaram a nave e que sobreviveram, usando de sua porção reptiliana cerebral e se transformando em verdadeiros monstros. Lembra a porção mental que era chamada por Freud de Id, que é responsável por instintos básicos, como desejos, apetites, sobrevivência. Muitos dos tripulantes ainda não acordaram do hipersono, e aqueles que já acordaram, viraram a presa dos mutantes, sendo apetitoso menu. Parece mais uma analogia a colonização dos europeus e encontro com tribos indígenas canibais.
Mas a fita é boa, o Pandorum me surpreendeu porque nos leva para um mundo paralelo, e essa ficção científica é inteligente, claro com os exageros e lutas de sempre, bem como efeitos especiais até que racionais. Os cenários foram bem bolados, e até convencem de se estar em um local para viagem interplanetária. Numa cena há milhares de containeres para alimentação, o que sugere uma preparação para a vida, uma luta para a sobrevivência sem igual. Ângulos de enquadramento de câmera também bem utilizados, um som que usa bem do sistema home theater, e ainda muitos closes. O protagonista parece ser o engenheiro mecânico, que leva bons tombos e por alguma falha não teve ossos quebrados, o que foi uma falha na produção. Mas a película deseja ficção, então exagerar em efeitos físicos pode ser uma linguagem para se seguir o ritmo do roteiro.
Depois de muita luta e de o nosso Novo Adão encontrar uma mulher, esta muito forte e guerreira, e ter perdido antiga esposa, algo de bom por fim é descoberto e reacionado o reator da nave, que renova a esperança dos personagens. A arca de Noé do futuro assim chega ao novo mundo, mas leva a que questionemos se não junto a ela traz os mutantes e o vírus, Pandorum, para assim repetir a história. A história se repete de tempos em tempos, já falava Hegel. Parece que esse novo mundo apenas funda um ciclo que repete a trajetória do nosso, com a chamada Criação e seus Elohim, vida sobre um planeta e uma humanidade, com seus bons Abels e seus ruins Cains. Contudo a surpresa ao fim e o novo mundo é “descoberto” e as “índias” são novamente o destino, para que a esperança da humanidade se renove, com seus Noés e Colombos, com suas arcas cheias de embriões e mapas genéticos, com a tecnologia divina. Um novo planeta e uma nova humanidade – juntamente um novo vírus: Pandorum. Essa humanidade é o próprio vírus de seu planeta, essa é a minha conclusão.
Mariano Soltys, autor do livro Filmes e filosofia)