Filme Identidade Paranormal e a transmigração das almas
Filme de nome sugestivo, me atraiu pelo tom da história, e por envolver uma psiquiatra tradicional. De começo sabia eu que ela teria problemas e questionamentos em suas teorias igualmente tradicionais. Mesmo porque desmascarar um louco em tribunal seria fácil, mas não um fenômeno paranormal. Acaba se vendo que a tal loucura e fantasia não é tão duvidosa assim. Identidade Paranormal pode ser explicada por diversos focos. Desde o mediúnico, que atrairia espíritas e daria uma explicação razoável, até mera alucinação onde o personagem compensa seus traumas de infância e possível abuso. Porém última tese meio descartada, uma vez que a personalidade usada estaria falecida há muito tempo. Surpreende quando um sujeito com personalidade cadeirante se transmuta em outra, de modo que levanta e sai andando. Lembra o que falou Cristo: “levanta-te”.
Outro viés interessante do filme foi ao de retratar uma bruxa da montanha, curandeira e que seria possível solução ao problema da psiquiatra, que ao ver que seus amigos morriam devido a uma força misteriosa, acaba por buscar essa explicação sobrenatural. Também é interessante que não são poucas as personalidades que se manifestam no paciente, e que vemos a ciência desafiada, e por fim cada vez mais a necessidade de se reconhecer a parapsicologia como ciência oficial. A psicologia e a psiquiatria são limitadas. Assim vemos a clarividência de Adam, quando hora manifesta o médico amigo de Cara (a psiquiatra), e quando vai falar com sua filhinha, a qual não desconfia e conversa com o tio desconhecido. Também notamos a vingança paranormal como algo possível, uma espécie de maldição, haja vista algo ocorrido muitos anos antes, com um pastor curandeiro em rivalidade as bruxas. Cultura cristã versus cultura pagã. De certo modo resume a história e dá explicação ao vínculo cármico daqueles que se entenderam como “Justiça de Deus”, ao matar pessoas com outro viés espiritual.
Outra explicação é a reencarnação, ou transmigração das almas. De certo modo essa doutrina já era reconhecida pela maioria das filosofias antigas, apesar de pequena divergência quanto a detalhes. Provavelmente por herança hindu, vemos que esse saber explicaria a modificação de Adam, e de sua sub-personalidade (nos lembra (Eleasar Cerqueira Mendes), a qual se manifesta em oposição a personalidade objetiva e presente. Logo as múltiplas personalidades seriam uma condição de nossa alma, e de nossas existência, sendo natural que fiquem latentes e não manifestadas. Isso explica a briga constante de casais, familiares e pessoas que têm vínculos de relacionamento inconscientes. Já Freud teria percebido em uma paciente de histeria alguma personalidade que aparecia, quando usava ainda a hipnose. Pela mesma hipnose se pode “voltar” e ver essas personaliades de outras vidas (ou da genética...), e assim explicar o fenômeno exagerado no filme, uma vez um triller com final infeliz.
Já na linha cética (ou céptica) da parapsicologia poderíamos pensar em telepatia e alguma sugestão inconsciente, onde as personalidades em volta de Adam seriam copiadas ou imitadas, de modo que o mesmo falaria se passando por fulano ou ciclano. O conhecimento do tempo passado se daria pela pantomnésia e demais fenômenos por telergia, como naqueles que coloca terra na boca das pessoas, sem as tocar, ou até causa a sua morte. Tudo acabou pela tradição popular sendo designado como “demônio”, e assim explicando seu inimigo interno (que entende externo). No filme esse senso comum se vê também claro, e a fé ou a falta de fé acaba sendo a desculpa da desgraça. No mais a loucura do paciente apenas estava associada a sua sensitividade, de modo que os fenômenos transparecem de forma caótica, inconscientes e somados a busca de explicação superficial da psiquiatra, que juntamente com seu pai são “duvidadores” por natureza, pessoas bitoladas a ponto de vista da psicologia e psiquiatria tradicional. Ademais, se pensarmos em subconsciente, o mesmo teria o conhecimento de tudo, e também grande poder, de modo que agiu nos atos do cadeirante, de modo a fazer fatos extraordinários e milagrosos em sua presença.
Claro que a explicação ocultista do fato seria ainda mais metódica, e que poderia se dever a atos mágicos e outros detalhes. Mesmo com o xamanismo da velha do filme, não iria longe a teoria da maldição e da feitiçaria, mas que exigiria uma vasta explicação para nos situarmos aqui. Como o filme é uma total ficção,não nos cabe aqui discutirmos o que se deve realmente, uma vez que filme partilha da mesma linguagem de “O Chamado”, misturando muitas coisas e algo que parece em certos momentos algum cartoon. Fato é que a prova do fenômeno no filme se deu duramente, e que por falta de uma defesa especifica, acaba se pagando com vidas o que vai além do nosso plano de manifestação. O filme de todo é muito bom e tem uma certa fatalidade interessante, sem moralismo ou dualismo, o que agrada por fim. A imprevisibilidade dá ao roteiro uma sensação de bom trabalho, e os efeitos especiais são até realistas, apesar de exagerados. As viagens no tempo, mudanças de personagens e focos dá um bom movimento a trama. O filme alia uma boa possibilidade para a discussão filosófica e parapsicológica. Uma opção diferente, para se levar a reflexão.