BOA VIAGEM
por Roberto CunhaA maior certeza que alguém pode ter quando entrar na sala escura para assistir este filme é que vai ver um grande espetáculo de cores, digno do universo criado por Lewis Carroll. Quem conhece um pouco do estilo Tim Burton de fazer cinema, e gosta, vai se sentir em casa. Por outro lado, quem não é fã poderá até se render porque Alice no País das Maravilhas, talvez, seja o mais comercial dos estranhos (e ótimos) filmes que ele realizou. Não só pelo fato de ser uma história conhecida, mas porque até os delírios sombrios de Alice (Mia Wasikowska) foram atenuados pelas cores, contrastes e o brilho dos personagens.
É interessante notar, por exemplo, como o espectador cai facilmente com ela nos subterrâneos e vivencia essa aventura regada a inveja, falsidade, deboche, sarcasmo e, claro, loucura. Com diálogos inspirados e, ao mesmo tempo, confusos graças ao "frabuloso" vocabulário criado por Carroll, o longa encanta do começo ao fim com um roteiro sem espaço para "barrigas" e que passa rápido. Os efeitos especiais são belíssimos e quem tiver a oportunidade de assistir em 3-D vai se deliciar. As sequências de ação entre personagens reais e virtuais são incríveis. E até mesmo as partes mais "pesadas" como o fosso das cabeças cortadas tornam-se ilustrações indispensáveis no longa que é um verdadeiro passaporte para o devaneio.
Uma curiosidade é o momento "Jeannie é um gênio" quando Alice está dentro de um bule, mas o destaque, sem sombra de dúvida, é a coesão do elenco e a riqueza dos personagens onde a Rainha Vermelha (Helena-Bonham Carter) é - disparada - a melhor em cena. O visual e a interatividade dos soldados da rainha, do Gato Risonho e a Lagarta (Absolem), por exemplo, são de tirar o chapéu (sem trocadilho), além do Chapeleiro Louco (Johnny Depp) que sapeca humor em todas as brechas possíveis da história. E assim, mergulhado neste universo não é difícil se perceber numa espécie de loucura coletiva junto com os outros espectadores, onde o bom gosto, a criatividade e a tecnologia juntaram forças para gerar encantamento e satisfação. Alice no País das Maravilhas é uma viagem de ida e volta, mas como diz o personagem principal, você vai sentir saudades quando acordar.