Para cinéfilo ver
por Bruno CarmeloTim Burton está em um momento nostálgico da sua carreira. Depois de grandes produções comerciais, como A Fantástica Fábrica de Chocolate e Alice no País das Maravilhas, o diretor lançou dois filmes em 2012, ambos saudosos às pequenas produções de antigamente. Sombras da Noite relembrava o humor dos sitcoms antigos, enquanto Frankenweenie homenageia os filmes de monstros, expandindo o universo do curta-metragem que o próprio Burton realizou 28 anos atrás.
O projeto de Frankenweenie é, por si só, um verdadeiro monstro de Frankenstein. O cineasta combinou elementos estéticos que dificilmente aparecem em um mesmo produto, como o preto e branco, o 3D e a técnica do stop motion (a animação "em massinha"). É uma grande produção, mas com a aparência das produções de baixo orçamento; é um produto novo e de última tecnologia, mas repleto de marionetes simples, e de um cãozinho cujo rabo ou orelha pode ser costurado, à mão, pelo dono.
Esta comédia-dramática-sombria-de animação dialoga com espectadores que assistiram – ou pelo menos demonstrariam interessem em assistir – às versões de Frankenstein, A Noiva de Frankenstein e outras produções com monstros aquáticos, Godzillas, aves mortais e afins. É um público mais velho (esta é uma das raras animações com pouquíssimo apelo às crianças), frequentador de cinemas alternativos, e que talvez prefira ver filmes premiados em festivais a uma grande produção americana com o selo Disney.
Apesar desta indefinição estética e comercial, Tim Burton imprime na história um carinho e uma dedicação extremos – o filme parece bem melhor produzido do que Sombras da Noite, por exemplo. Cada personagem ganha um universo coeso com sua voz, seus gestos corporais, sua estranheza e sua relação com o macabro. O tema central desta história é o trabalho de luto, mas diante de um tema espinhoso, Burton demonstra calma e pudor. A cena da morte do cachorro é um exemplo de direção inteligente, que sabe utilizar o poder da sugestão. As imagens do cadáver do cão atropelado também são meticulosamente refletidas para comoverem apesar de mostrarem pouco do próprio animal.
No entanto, apesar das evidentes qualidades técnicas de Frankenweenie, a produção não traz nenhuma real reflexão, nenhuma inventividade no uso da linguagem – como se viu recentemente no ótimo e violento ParaNorman, outra animação em stop motion com tema semelhante. Os pais são personagens pouco desenvolvidos, o roteiro evita fugir do arco dramático simples e tradicional, inclusive em sua reflexão final (um tanto simplória) sobre a superação do luto. Aparentemente, a proposta era exatamente esta: tratar seus temas com ternura, sem provocar nem incomodar ninguém. Nesta intenção, bem-sucedida por sinal, encontram-se as virtudes e as limitações de Frankenweenie.