ititi, Temuera Morrison, Geoffrey Rush, Michael Clarke Duncan, Warren Burton, Salome Jens, Clancy Brown
Regular
De todos os personagens do primeiro escalão da DC Comics, o Lanterna Verde é o que tem o universo mais complexo. O super-herói, afinal, age ao lado de outros 3.600 defensores da paz na galáxia, a Tropa dos Lanternas Verdes. O escopo permite desde interações sociais na Terra até guerras espaciais entre milhares de combatentes, divididos entre facções multicoloridas que representam espectros cromáticos e emocionais.
Na adaptação dessa vastidão às telas, o filme Lanterna Verde (Green Lantern, 2011) é extremamente bem-sucedido. O planeta Oa, o lar dos Guardiões da Galáxia (os criadores da Tropa), é imaginativo e detalhado, assim como seus ocupantes. No cinema, os Lanternas surgem em toda a sua variedade e alguns deles recebem bom espaço de tela, especialmente Tomar-Re e Kilowog, heróis criados por CGI através de dublês por captura de movimentos e dublados por Geoffrey Rush e Michael Duncan Clarke.
Outro dos mais importantes personagens da série, Sinestro (Mark Strong), ganha vida através de uma elaborada maquiagem que o transforma em uma cópia perfeita dos traços do brasileiro Ivan Reis, ilustrador que trabalha há anos com a DC nos quadrinhos. Strong entrega ao personagem a dualidade e a nobreza que o ator já demonstrou mais de uma vez no cinema, especializando-se em vilões fortes e carismáticos. Melhor ainda é Peter Sarsgaard, o Hector Hammond, que se entrega ao personagem com vontade, o tornando de longe o mais real do filme. Pena que lhe sobre tão pouco a fazer no terceiro ato, mais focado em outro vilão, o Paralax.
Mas se no design, na qualidade da computação gráfica, na adaptação da mitologia do personagem e na seleção de elenco o longa agrada, o mesmo não pode se dizer da história. Preocupados com a complexidade do universo que deveriam apresentar e em como torná-la mais palatável ao grande público (a abrangência é a maior preocupação do cinema comercial hoje), os produtores optaram pelo caminho da adequação formulaica da narrativa. Não seria um problema grave se isso fosse realizado impecavelmente, mas Hal Jordan, o personagem central, que guia toda a história, carece de lógica.
O herói é apresentado como o melhor piloto de provas da Ferris Aeronáutica, um que desafia a todo instante seus medos - tema central do filme -, mas a memória do pai, morto em um acidente durante um teste, é a barreira entre Hal e o que ele pode se tornar, o homem que pode ser. O problema é que isso é trabalhado com mão extremamente pesada pelo roteiro. Os conflitos de Hal ficam apenas na superfície e não fazem muito sentido (por que ele não teme voar até perder o controle mas tem medo de puxar a alavanca do assento ejetor?), e o diretor Martin Campbell, que deixou claro estar ali pelo tamanho do cheque (leia em nossa entrevista) e não tem qualquer afinidade com a obra original, nada faz como cineasta para mudar isso. O texto cria as situações de conflito para resolvê-las com falatório. Hal Jordan deixa a Tropa em Oa de maneira um tanto inexplicada e incoerente com sua apresentação e, ao invés de aprender lições sobre amadurecimento e responsabilidade a seguir (cadê o assassino do Tio Ben quando precisamos dele?), simplesmente ouve da ex-namorada, Carol Ferris (Blake Lively), em uma sequência tediosa, o que precisa para seguir adiante. Sermão de auto-ajuda super-heróica. Essa solução é repetida algumas vezes, com a obviedade do discurso sobrepujando-se aos recursos do cinema. Vilões adoram explicar seus planos, mas em Lanterna Verde essa é uma característica do grupo (que ganha até um narrador para deixar tudo ainda mais claro).
Ryan Reynolds, o intérprete de Hal, teria até sido uma boa escolha. Ele é ótimo para viver sujeitos levemente arrogantes como o personagem, que já passou por fases motivadas por esse sentimento. Mas parece que o peso da responsabilidade foi demais. A atuação de Reynolds é exagerada quando não deve e apagada quando ele precisa efetivamente assumir a responsabilidade pelo drama. Falta ao ator também o carisma necessário para levar um herói pouco conhecido ao grande público (ele passa longe de um Robert Downey Jr., afinal).