Luz Amarela
por Francisco RussoApesar de ter tomado a dianteira na realização de filmes evento baseados em super-heróis dos quadrinhos, a DC Comics tem perdido terreno para a Marvel nos últimos anos. Em parte por sua própria culpa, devido ao excesso de zelo na realização de novos filmes. Enquanto a concorrente aposta em heróis diversificados, a DC se mantém apenas com Batman e Superman na tela grande. Lanterna Verde é uma tentativa bem-vinda de quebrar esta hegemonia, mas peca no ponto crucial de toda e qualquer adaptação: o mal aproveitamento das melhores características do personagem.
Tudo bem que trata-se da estreia do Lanterna Verde nos cinemas, o que implica na necessária história de como Hal Jordan (Ryan Reynolds, convincente no papel) se tornou o super-herói. Ousado e com uma boa dose de irresponsabilidade, Hal é um destemido piloto que vive com a imagem do pai em mente, mais exatamente a forma trágica como morreu. Um dia, ele é capturado por uma bolha verde e levado até Abin Sur, um alienígena à beira da morte cuja nave caiu na Terra. O anel escolheu Jordan como seu próximo portador, mesmo que ele próprio não tenha a menor ideia do que se trata o objeto. Nasce então o primeiro Lanterna Verde humano.
A partir de então tem início o aprendizado de Hal Jordan, não apenas sobre os poderes gerados pelo anel mas também como pessoa, de forma a melhor lidar com o medo e não fugir dos obstáculos sempre que surgem. Tudo bem linear e simples, com diálogos óbvios de forma que o filme possa ser visto por espectadores de qualquer idade, sem dificuldades. A ausência de ambição faz com que o filme, em vários momentos, tenha o impacto almejado diminuído. Um exemplo é o planeta Oa, cuja impressionante diversidade de espécies é pouco explorada pelo roteiro. O próprio treinamento de Hal limita-se a breves confrontos e ensinamentos, sempre com frases de efeito embutidas.
É na segunda metade, quando Hal já tem alguma experiência, que Lanterna Verde mostra o que poderia ter sido. A criatividade do herói ao dar forma à luz verde emanada do anel vem à tona, gerando situações divertidas e fugindo do lugar comum apresentado até então. O Lanterna passa a ter enfim seu diferencial, de forma a posicioná-lo entre os demais super-heróis do cinema. Pena que, além do pouco tempo em que tal característica é explorada, os dois vilões da história não ajudem. Um deles, Parallax, pela característica etérea que o transforma numa espécie de nuvem escura com rosto, sem uma forte presença; outro, Hector Hammond (Peter Sarsgaard, bem), até é interessante pelo lado psicológico envolvendo o pai, mas acaba descambando para um triângulo amoroso que enfraquece o personagem. Nenhum deles é um adversário de impacto para o herói, servindo mais para compor a história de forma a preparar o espectador para a sequência.
Lanterna Verde é um filme regular, que apesar de patinar na obviedade consegue ter alguns bons momentos, como nas cenas envolvendo o casal formado por Ryan Reynolds e a bela Blake Lively. O uniforme feito de luz e os feixes que surgem ao longo da história provocam beleza visual, apesar de serem pouco realçados pela tecnologia 3D. Esta, por sinal, torna o filme bem mais escuro e não tem grande relevância. Ponto negativo também para a cena em que, ao tentar descobrir como o anel funciona, Hal Jordan começa a falar bordões de outros heróis. A ideia é boa, mas já foi explorada em Homem-Aranha. É este clima de requentado, de mais do mesmo, que norteia boa parte do filme, o que faz com que o espectador acenda a luz amarela. Não de medo, como o filme apregoa, mas de alerta. É preciso melhorar em uma possível continuação.