“Rambo: Last Blood” marca o encerramento da saga de John Rambo, interpretado por Sylvester Stallone, um ícone dos filmes de ação dos anos 80. Ao longo de décadas, o personagem evoluiu de um veterano traumatizado da Guerra do Vietnã, que luta contra seus próprios demônios e os inimigos que surgem ao seu redor, para um símbolo da violência brutal, sempre à procura de justiça ou vingança. Este último capítulo da série tenta encerrar a jornada do personagem, mas o faz de forma controversa, levantando questões sobre o uso de estereótipos, a abordagem narrativa e o legado de Rambo.
O filme começa com Rambo vivendo em relativo isolamento e tentando lidar com sua solidão e traumas passados. Agora mais velho, ele cuida de sua fazenda no Arizona e tenta proporcionar uma vida tranquila para sua sobrinha Gabrielle, uma das poucas conexões humanas que lhe restam. A partir daí, a trama é impulsionada quando Gabrielle é sequestrada por um cartel mexicano após tentar encontrar seu pai biológico. O enredo segue o velho padrão dos filmes de ação: um protagonista que parte em uma missão de resgate e, eventualmente, busca vingança, o que não é surpreendente, dada a trajetória do personagem ao longo da franquia.
Embora o filme traga novamente a imagem icônica de Rambo como um homem violento e brutal, o que realmente se destaca são as camadas emocionais de um herói desgastado pelo tempo e pelas perdas. A dor pela morte da sobrinha desencadeia em Rambo um desespero que transcende a vingança física; ele se questiona por que não foi ele quem morreu. Essa reflexão, embora breve, adiciona uma profundidade emocional rara em filmes de ação, sugerindo que Rambo, como herói trágico, não luta apenas contra os vilões, mas contra a própria futilidade de sua existência.
No entanto, por mais que Stallone consiga oferecer um retrato emocionalmente convincente de um homem quebrado pelo tempo e pela violência, “Rambo: Last Blood” falha ao cair em clichês e estereótipos que enfraquecem sua narrativa. A representação do México e dos mexicanos como vilões unidimensionais é um dos pontos mais criticados. O filme pinta o país como um território dominado por cartéis cruéis, sem oferecer nuances ou complexidades a esses personagens, o que reforça uma visão simplista e estereotipada. Esse uso de vilões estereotipados enfraquece o impacto da trama, tornando o filme previsível em muitos momentos.
A violência gráfica, uma característica da série Rambo, atinge aqui novos patamares. As cenas de combate e as armadilhas mortais que Rambo prepara no clímax do filme são brutais e sangrentas, reforçando o lado brutal do personagem. No entanto, essa brutalidade, embora visualmente impactante, traz à tona o dilema moral do filme: a violência incessante e quase mecânica de Rambo ainda pode ser justificada, especialmente quando o personagem parece estar lutando uma batalha perdida consigo mesmo?
A despedida de Rambo, simbolizada pela cena final em que ele, ensanguentado, senta-se em sua varanda, olhando para o horizonte, sugere um fim silencioso e contemplativo. É o fechamento de um ciclo, onde o personagem não encontra paz ou redenção, mas apenas a aceitação de quem ele se tornou. Ele é, em última análise, um guerreiro que não sabe viver em paz, pois sua vida sempre foi marcada pela guerra e pelo sofrimento.
Em termos críticos, “Rambo: Last Blood” foi alvo de duras críticas, tanto pela trama superficial quanto pela utilização excessiva de violência e clichês. Entretanto, é importante lembrar que, dentro do contexto da própria obra, este filme não busca inovar ou reformular o personagem. Em vez disso, ele oferece uma despedida simbólica para um dos personagens mais icônicos do cinema de ação. Mesmo que o filme tenha suas falhas e não esteja à altura dos primeiros capítulos da saga, ele oferece um fechamento emocional para o personagem que, apesar de sua brutalidade, sempre foi uma figura tragicamente humana.
No final, “Rambo: Last Blood” é um filme que divide opiniões. Para os fãs de longa data, é uma conclusão adequada para a jornada de um personagem complexo, que, ao longo dos anos, se transformou em um símbolo de resistência e dor. No entanto, para críticos que esperavam uma abordagem mais inovadora e menos dependente de estereótipos, o filme pode ser decepcionante. De qualquer forma, o legado de John Rambo, como um herói atormentado pela guerra e pela violência, permanece intacto, e este último filme serve como um lembrete do preço que ele sempre pagou por sua vida de combate.