Eu também
por Roberto CunhaChegou a tão esperada hora dos fãs de "Arquivo X", sucesso na TV, entrarem em contato novamente com o universo de Chris Carter. Mas se você não faz parte dessa tribo, não se preocupe. Arquivo X - Eu Quero Acreditar não carece de nenhum tipo de iniciação para ser entendido. É evidente que para os "iniciados", os detalhes farão muita diferença. Mas deixando isso de lado, o filme é policial com relativa dose de suspense e uma pitada de ficção. E tem um humor nas entrelinhas que acabou beirando o trash. Contudo, a seqüência não teve a força do primeiro e passou longe do que se viu na tv. Ruim? Pode ser. As opiniões vão divergir. É triste para uns, por exemplo, não ouvir a trilha eternizada por Mark Snow e se contentar com uns acordes modernosos na abertura e outros mais adiante.
A trama gira em torno do sumiço de uma agente do FBI cujas pistas para descobrir seu paradeiro foram fornecidas por um padre vidente e pedófilo, não necessariamente nessa ordem. Responsáveis pela investigação, os agentes Dakotta (Amanda Peet) e o impaciente Drummy (o rapper Xzibit, do programa "Pimp my Ride" / MTV) procuram Dana Scully (Gillian Anderson) e Fox Mulder (David Duchovny para ajudar na busca. O motivo? O passado dos dois pode ajudar nesse caso. Apesar de afastados do ofício, Scully virou médica e Mulder se tornou um estereotipado recluso. Desnecessário dizer que o tal padre cai como uma luva para temperar e reacender os eternos conflitos dos dois, regados a religião, paranormalidade e alienígenas. Esse, aliás, era o contraponto que norteou a série por anos: a descrença de um e a crença de outro. O nome do filme, inclusive, é alusivo ao clássico pôster de um disco voador no quarto de Mulder, que sempre acreditou que sua irmã foi abduzida por alienígenas.
Com intenção de apimentar mais o roteiro, Carter introduz elementos típicos de uma relação a dois, como filhos (?!), ciúmes, aconchego do lar e por aí vai. Até o contraste dos olhos azuis de Peet e verdes de Anderson foram explorados. Não deixaram de lado, claro, corpos mutilados, seqüestro, cárcere, pesquisas com células-tronco, homossexualismo e, pasme, um cão de duas cabeças. O merchandising da Google não poderia ser mais atual. O destaque vai para a piada sem diálogo, com uns acordes da trilha, envolvendo Bush e Hoover, dois presidentes dos EUA. De resto, você vai ver charadas típicas de serial killers, perseguição a pé e uma investigação no escritório do suspeito quase infantil. Definitivamente, a marca Arquivo X merecia algo melhor. Eu queria acreditar, mas não deu certo. Seis anos se passaram do fim da série e tudo indica que Carter e seu séquito perderam a mão. Para mim, o maior mistério foi a escolha do editor de Titanic, de 1997, para esse trabalho.
ATENÇÃO: Não saia antes dos créditos finais. Depois de uma série de imagens aparentemente estranhas ao filme, você descobre a "exigência" que Mulder fez, lá no começo, para participar da investigação. É assustadora. E absurda.