Confesso que embora goste de todos os gêneros clássicos do cinema, filme de guerra não está entre os meus preferidos. Mas A Rebelião, embora não deixe de ser um drama de guerra, tem elementos suficientes para prender nossa atenção, nos relatar em minúcias um fato histórico recente, e além disso, nos brindar com um filme de ação muito bem conduzido.
Com A Rebelião, ficamos sabendo que, sim, a França ainda tem colônias ultra-marinas. E que uma pequena e quase insignificante insurreição na pequena ilha, tornou-se manchete nos jornais do país e mereceu uma operação de guerra pelo exército francês, com um quantitativo e qualitativo militar ridiculamente desproporcional frente aos insurgentes. Por que essa movimentação toda? Ora, interesses econômicos - a ilha é produtora de níquel - mas também, como o filme mostra bem, um momento delicado de transição, às vésperas de uma eleição para escolha de novo presidente na França.
O título original - A Ordem e a Moral - dá bem conta do drama vivido pela personagem principal, o capitão Philippe, que se vê entre a obrigação de cumprir o seu dever como militar, e a sua visão pessoal do conflito, que incluem além de sua simpatia pelos insurgentes, o seu descontentamento pelos métodos utilizados para solucioná-lo.
O diretor Kazzovitz, que já incursionou pelo cinema americano - Missão Babilônia, Na Companhia do Medo - volta a um tema polêmico, como o abordado em seu elogiadíssimo O Ódio (La Haine, 1995). Com A Rebelião, Kazzovitz retoma a tradição francesa dos filmes politizados, na linha daqueles feitos por Costa-Gavras (Z, Desaparecido).
A Rebelião demonstra muito bem que, sob o peso dos interesses político-eleitoreiros, não sobra muito espaço para decisões baseadas na razão e bom senso diplomáticos. À medida que o filme avança, as várias faces do conflito passam a emergir - independentistas que o governo trata como terroristas, e militares a serviço de um ultrapassado colonialismo, que não enxergam os limites entre o direito e o poder.