É muito comum que diretores usem de experiências pessoais como matéria-prima para seus projetos mais intimistas. É comum também que estes mesmos realizadores misturem estas experiências com o elemento ficcional de seus projetos. Mas é absolutamente incomum que tais realizados usem ficção e fatos reais para se auto-homenagear e conseguir, sem pedantismos ou arrogância gratuita, homenagear também o instrumento da própria arte. É o caso deste belíssimo Esses Amores, do genial e injustamente subestimado diretor francês Claude Lelouch que, neste filme, cria uma história que de forma indireta, nos conta num tom nostálgico e auto-referencial todo o amor dele pelo cinema e seu fabuloso mecanismo de contar histórias que nos apaixonam e encantam desde os idos tempos dos irmãos Lumiére.
Logo no início do filme, um letter nos adverte que a história que virá a seguir é um apanhado de várias estórias ouvidas ao longo dos anos e que tem sim, qualquer semelhança com fatos reais. Em seguida, imagens de mulheres sobrepostas à uma imagem de uma orquestra compondo um tema incidental nos sugerem muito sutilmente uma certa metalinguagem, que se insinua sem estardalhaço, mas que marca, de uma forma muito particular, o verdadeiro tema do filme, e que não se debruçará apenas na história romântica da protagonista Ilsa (Aldrey Dana). História essa que se inicia por meio de imagens em preto & branco extraídas diretamente da cartilha clássica do cinema mudo, onde vemos a dramática história da heroína e sua trágica mãe, até o momento em que conhecem Maurice (Dominique Piñon), futuro padrasto da protagonista e projecionista do [fictício] Cine Éden, e que lhe legará também esta atividade. Daí em diante, passamos a acompanhar a jovem Ilsa e o seu envolvimento com seu jovem namorado (Raphaël), depois com o general alemão Horst (Samuel Labarthe), o soldado e o correspondente de guerra americanos, Bob Kane (Jacky Ido) e Jim Singer (Gilles Lemaire), até o advogado e pianista Simon (Laurent Couson) que, surgindo em flash-forwards num tribunal, assumirá a função de narrador durante todo o filme, fazendo com que sua retórica de defesa da personagem guie nosso olhar para a própria história de Ilsa, além de, no processo, misturar esse discurso com memórias de sua própria vida, entrelaçando, de uma forma bastante subjetiva, a sua história com a história de sua cliente... (LEIA O RESTANTE DO TEXTO NO LINK ABAIXO!)