REFÉM DE SUA HISTÓRIA
por Roberto CunhaA cena inicial de A Prisioneira é um grande chamariz, principalmente, para aqueles que "curtem" a claustrofobia. A abertura, logo em seguida, mantém o padrão de qualidade, revelando o porquê do título com recortes de jornais sobre os crimes ocorridos, onde aconteceu, tudo bem montado e com competência. O objetivo, claro, é te prender diante da tela. As cenas seguintes, porém, mudam radicalmente e acontecem 15 anos depois com a jovem engenheira Sam (Mischa Barton), recebendo do pai a missão de descobrir a melhor maneira de colocar um prédio abaixo. Desnecessário dizer que o endereço é o mesmo dos recortes. Ou seja, lá vai a moça para o lugar sinistro.
Uma vez lá, Sam conhece a zeladora (Deborah Kara Unger de 88 Minutos) e seu filho (Cameron Bright de Lua Nova). Os dois cuidam do gigantesco imóvel ocupado por apenas quatro moradores e, logo de cara, a jovem fica sabendo sobre um mistério que cerca o prédio e seu criador, um excêntrico arquiteto desaparecido. Assim, a trama vai se revelando pouco a pouco, durante os estudos dela sobre a melhor maneira de demoli-lo. O filme mantém um clima de suspense básico, tem uma edição ágil e trilha padrão. A fórmula de elencar suspeitos não é nova, mas falta uma certa manha para gerar envolvimento no espectador e não soar falso. Não dá, por exemplo, para aceitar uma pessoa apavorada, sozinha, de uma hora para outra virar corajosa e sair fuçando tudo. Se tivesse mais alguém para "estimular" o personagem, poderia funcionar, mas não foi o caso.
Para completar, a fragilidade da história também vai se revelando. E o que abala a estrutura de vez é o "papo maluco filosófico arquitetônico" que chega aos poucos e toma posse dos diálogos, beirando o ridículo. O que dizer por exemplo de frases como "A morte é a parteira para a vida eterna". Sofrível. Algumas mancadas poderiam ser evitadas como uma história de amor surreal, tão rápida quanto uma cadeia de fast food (competente). Entre as citações, um espaço para o clássico do suspense em imóveis: o Bates Motel (Psicose).
Sobre o elenco, Barton fez relativo sucesso no seriado "The O.C.", mas falta bagagem para levar um filme nas costas e ela é magrinha demais para isso. (risos). Unger tem vários anos de telefilmes na carreira, já teve sua sensualidade explorada no passado, mas seu destino são papéis fracos. Bright, por sua vez, tem um rosto enigmático, um olhar triste, e condições de fazer algo mais assustador. Agora, se a sua pergunta é: o filme assusta? Dá até para dizer que você pode levar um susto aqui e outro ali, mas não se anime. O curioso é que o filme não é mal feito (confira o trailer), mas A Prisioneira acabou virando refém de seu próprio roteiro e quem paga o resgate são aqueles que se aventuram pelos seus quase 90 minutos.