Às vezes uma ideia simples (ou até sem criatividade) pode gerar algum filme bem mais interessante ou envolvente do que uma trama complexa e cheia de tentativas de inovar ou de realmente surpreender. O diretor Christopher Landon (do desastre da quinta parte da franquia Atividade Paranormal) tem consciência disso e se aproveita de um mínimo necessário de técnica de condução narrativa para que a história deste A Morte te dá Parabéns se torne algo aceitável ou que pelo menos entretenha por suas uma hora e meia de duração e consegue, surpreendentemente, dar um enfoque mais humano do que a maioria dos filmes deste gênero – voltado mais para o público adolescente – conseguiria sobre alguns de seus personagens.
A premissa pega emprestado o conceito de filmes como Feitiço da Lua (filme estrelado por Bill Murray, que será citado em determinado momento por um personagem, como um tipo de homenagem ou uma forma de dizer “olhem, nós sabemos que não é criativo”), Meia-Noite e Um, No Limite do Amanhã e o também lançado em 2017, o drama Antes que Eu Vá, para contar a história da jovem Tree (Rothe), uma estudante de medicina que parece viver mais um dia normal no campus da universidade até que, de noite, antes de ir para uma festa, é ataca por um mascarado e morre esfaqueada – mas, para sua surpresa, logo em seguida, ela acorda da mesma maneira que acordou na manhã antes do crime – e o dia acontece da mesma forma, sempre terminando com um ataque do tal mascarado – dentro deste circulo, praticamente interminável, Tree começa a notar que precisa descobrir quem é o assassino para poder se livrar da própria morte – mas a arrogância da moça com suas colegas de quarto, seu relacionamento extraconjugal com um médico-professor (Aitken) e seu mal comportamento na faculdade são fatores que tornam quase todos suspeitos, já que muita gente parece não gostar dela.
Contando com a atuação carismática (mesmo que um tanto exagerada aqui e ali) da jovem Jessica Rothe (uma das amigas de Emma Stone em La La Land), o foco mais curioso do filme é justamente a construção da personalidade de Tree – mesmo que não tem nenhuma explicação – supõe-se que tenha algo com relação ao fato de tudo acontecer no dia do aniversário da moça, que, coincidentemente, também é o aniversário da morte de sua mãe – o fato dela viver o mesmo dia várias vezes funciona para fazer com ela veja a vida de outra forma – conseguindo notar quem são suas amigas verdadeiras – a insuportável Danielle de Rachel Matthews – seus reais amores – sua dinâmica com Carter, vivido por Israel Broussard, é algo bem inserido, que ajuda a conduzir a parte de “investigação” da trama – e sua relação com seu pai (Bayle) – que, mesmo repleta de clichês, consegue convencer graças a atuação simpática de Jessica – além do seu caso com o professor Gregory de Charles Aitken, que também é outro ponto que vai mostrando como a personagem evolui vendo com mais detalhes o seu dia repetido.
Apostando em um jogo de câmeras rápido e cortes na medida certa, o diretor consegue trazer um dinamismo com as cenas que poderiam pausar o ritmo, no caso as partes repetidas do começo do dia de Tree – como uma onde ela é golpeada na cabeça e a câmera a segue até cair sobre a cama, mostrando o dia começando novamente – aliás, isso é inteligentemente usado para refletir a melhora de comportamento da personagem mais a frente. Usando sustos pontuais – sem exageros – o ritmo do filme é constante e flui bem – mesmo que o roteiro tenha uma infeliz falha de querer esconder uma reviravolta bem previsível – que, basicamente, é ajudada ainda por um(a) coadjuvante tão apático(a) que a suposta surpresa já é fácil de adivinhar logo no final do primeiro ato.
Evidentemente, outros defeitos atrapalham o filme, em especial alguns clichês – como as intrigas entre garotas mimadas de colégio, com direito até a derrubar bebida no cabelo da colega – mas o uso do humor, na maior parte do tempo é bem intencionado e ajuda a desenvolver algumas situações.
No mais, acaba sendo um tipo de homenagem/brincadeira a clássicos do terror/suspense como Pânico, Halloween ou Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado – misturados ao já manjado esquema de personagem que vive um mesmo dia várias vezes – entretanto, A Morte te dá Parabéns confere algum êxito justamente por não se levar tão a sério e ser ajudado por uma boa protagonista, que garante cativar a atenção até o final, mesmo que este seja evidentemente sem uma surpresa real.
Esse filme é (nas suas proporções, é claro) como quando Alfred Hitchcock apenas “brincava” com seu estilo em filmes mais suaves, como Cortina Rasgada ou Trama Macabra. O que significa algo bom.