Megalópolis – a obra fáustica de Francis Ford Coppola
O canto do cisne de um artista genial?
Porque parece a síntese mais complexa de toda uma vida de um artista inesgotável.
Possuidor de uma potência criadora capaz de produzir uma obra desta envergadura após outra obra extraordinária, única, como Apocalipse Now.
Como O Fausto, Coppola construiu esta obra por 42 anos. O Fausto levou 50 anos de Goethe.
Como Shakespeare que fez de seu Hamlet um ser questionador, atormentado por seu tempo, Coppola criou seu Cesar Catilina.
Tal como Fausto – personagem épico, um homem da ciência, mago e alquimista, desiludido com o seu tempo, apaixonado pela técnica e progresso, e que almeja ao encontro final com a beleza:
“diria ao Momento – Oh! Para enfim – és tão formoso!” (Fausto - tradução de Jenny Klabin Segall)
É assim o “Fausto / Hamlet “ de Coppola – Desbravador, ousado, obcecado pelo belo e pelo moderno, pela ciência e pela imortalidade (criou uma substância indestrutível e que transporta à modernidade – o megalon); nosso personagem também quer parar o tempo. Quer deixar pro mundo uma obra imortal.
E como Hamlet – é niilista, questionador e conflituado com seu tempo, sua mãe e seu tio Claudio – referido várias vezes em seus discursos (Ser ou não Ser, Somos feitos da matéria de que são feitos os sonhos...)
Sua Julia nos remete ora à Ofélia, ora à Cordélia.
Megalópolis é uma obra “barroca” – pelo uso excessivo de efeitos plásticos, gongóricos, de imagens, cores, sons, palavras...
Se utiliza de inúmeras possibilidades da linguagem audiovisual – filmes, desenhos, pinturas, animação; é um “melting pot” de efeitos e ritmos, que produzem tanta beleza que nos arrastam em seu delírio criativo sem limites. Traz inúmeras referências ao cinema, como a gigantesca torre que nos remete à Metropolis de Fritz Lang.
Não é de se estranhar, portanto, que não seja uma obra para todos.
A coragem absoluta do cineasta em fazer a obra de sua vida de forma independente, bancada com parte de seu patrimônio, o que já havia feito por ocasião de outros projetos seus, faz do personagem central uma espécie de seu alter-ego.
A quem ele, de modo otimista, não só em relação a seu personagem, mas também à humanidade, dá um final redentor.
Como Fausto, que, ao morrer, vence Mefistófeles, e é levado, por um coro de anjos para junto à divindade.