ENCONTRO ÀS CLARAS
por Roberto CunhaTinha que ser Você (Last Chance to Harvey, no original) é uma história simples para falar de um tema complexo, assunto sério que aflige pessoas em todas as partes do mundo: a solidão. Com uma bela música de abertura ao som do piano, o espectador é apresentado ao personagem Harvey Shine (Dustin Hoffman), um compositor de jingles veterano, pressionado pela modernidade, que precisa viajar à Londres para o casamento de sua filha.
Harvey tem um presente conturbado e um passado que também o perturba, a ponto de ter dificuldades de se comunicar com uma simples secretária eletrônica ou ignorar a simpática Kate Walker (Emma Thompson), pesquisadora do aeroporto de Londres. Ele é o sem jeito em pessoa, mas criativo por natureza, enquanto Kate precisa ser criativa, embora a todo momento se encontre sem jeito. Ainda mais com uma mãe inconformada com a sua solteirice. A vida é implacável com eles quando os coloca no lugar que melhor sintetiza como se sentem em momentos distintos: pensativos, no banheiro. Mas por obra do destino (e do roteiro) os dois se reencontram e Harvey desfaz a má impressão inicial, destilando seu humor americano que combinado com a graça britânica de Kate, resulta numa simpática fórmula.
O longa fala das oportunidades que se abrem quando o coração não se fecha. A música tema permeia toda a história, que reúne opostos (e estrangeiros) que se atraem e, como bons adolescentes, se apaixonam. E juntos descobrem a importância de se falar o que pensa e o que se sente para conquistar uma vida diferente. O roteiro é leve e emociona. Como no discurso de Harvey sobre os filhos do divórcio e quando sua filha o agradece por "voltar" e ele faz o mesmo por ela o "aceitar". Verbos obrigatórios para o amor.
Destaque para a diferença de altura dos personagens que não atrapalhou a boa química do casal em cena. Vale também para as externas românticas em Londres e para a secundária, mas divertida mãe (Eileen Atkins) paranóica com o vizinho "serial killler". Escrito e dirigido pelo cineasta independente Joel Hopkins, Tinha que ser Você está longe de ser uma obra prima, mas cumpre seu papel de verdadeira mensagem de otimismo para os corações solitários.
Crítica públicada originalmente em 19/06/2009.