MAL TRAÇADAS LINHAS
por Roberto CunhaQuando vi as primeiras imagens num trailer, fiquei impressionado e pensei: “Vem coisa boa aí!” Quando assisti as primeiras cenas do filme indaguei: “O que é isso !?” E antes que um leitor mais afoito aposte numa possível má vontade com Denzel Washington (não é) vale lembrar que foi ele quem andou pegando o trem errado no fiasco O Sequestro do Metrô 1 2 3. De volta ao livro, quer dizer, filme, o grande problema de O Livro de Eli é o roteiro.
Sob o pretexto de levar um misterioso livro para o seu destino, um andarilho (Washington), portando uma mochila e um facão pra lá de afiado, chega numa cidade dominada por um vilão (Gary Oldman mais caricato do que nunca) e desolada pelo apocalipse. Pra piorar, o lado místico do filme (tem isso) faz o herói acreditar que ele sairia dali incólume depois de trucidar alguns membros da gangue local. Haja paciência! Com bandidos estereotipados, visual e cenas chupados do clássico Mad Max, falta mais substância na trama. É ação gratuita e nada mais. A critica ao poder da Igreja Católica sobre as pessoas e as passagens religiosas citadas por Eli antes de mutilar seus inimigos podem até ser legais, mas é tudo superficial. E o que mata também (além do facão dele) é a falta de noção de tempo. Em determinado momento, ele foge a pé e a bandidagem de carro não consegue alcançá-lo. Mas os urubus - em menos de 24 horas - sinalizam a evidência de corpos mortos ?!?
Entre as muitas citações, tem cenas clássicas de faroeste em rua poeirenta ou entrada em um bar como um legítimo forasteiro. E o caldeirão é tão grande que até a Revolução Cultural de Mao-Tsé-Tung aparece quando se descobre que os livros foram todos queimados. E o vilão estava lendo a biografia de Mussolini. Ohh! No elenco, Mila Kunis e Jennifer Beals são apenas mulheres e surpreendente mesmo foi a aparição/ponta de Malcolm McDowell (Laranja Mecânica). E diante de tanto merchandising (KFC, Motorolla, Ipod, Zippo) não sei como não aproveitaram para fazer do uísque Johnnie Walker já que Eli "Keep walking". Para não dizer que tudo está perdido, o som é muito bom, a fotografia cinzenta é bacana e a inserção de “Ring my bell” (Anita Ward) na trilha foi uma grande piada sonora. Resumo da ópera: O Livro de Eli foi mal escrito pra chuchu. Mas se você está no time que gosta da ação (a)pela ação, dá para encarar este Mad Max de 2010. Eu ainda prefiro o original, pelo conjunto da obra.