CALEIDOSCÓPIO URBANO
por Roberto CunhaOs filmes da franquia "Eu Te Amo" são conhecidos por uma parcela do público e, entre suas características principais, a participação de nomes conhecidos na direção, elenco e produção é um realidade. Nova York, Eu Te Amo não foge a regra. Ao reunir o trabalho de 10 diretores, entre eles a estreante Natalie Portman, e contar com vários rostos conhecidos estampados na telona, o filme formado por várias histórias é um grande caleidoscópio poético e cáustico de uma metrópole que bem simboliza o capitalismo selvagem.
Após cenas rápidas da Big Apple na abertura, você embarca no primeiro conto que é quase uma síntese e marca registrada, envolvendo a pressa, um táxi e um motorista indiano. E uma vez escancarada as portas da cidade, o que se vê em seguida são pequenas e significativas esquetes, pontuando aspectos típicos de um lugar que não para, uma selva de concreto onde a mistura étnica é uma realidade, tempera as relações humanas, e falar cantonês, por exemplo, pode não ser mais exclusividade de um pequeno grupo de imigrantes. Através de personagens curiosos, o sexo parece ser o catalisador e surge no discurso verborrágico de um hilário viciado em sexo, azarando uma mulher na rua, no dilema de uma dupla que praticou sexo casual e não sabe como reagir no dia seguinte, em um jovem virgem e até num casal de idosos, que representam bem a essência do relacionamento a dois após 63 anos de casados. O longa passa rápido e pode encantar os olhos e mentes mais atentos, abertos para a interpretação.
Entre os destaques, é curioso perceber que o hábito de fumar, outrora glamourizado no próprio cinema e combatido fervorosamente nos dias atuais, encontrou aqui amplo espaço e “protagoniza”, pelo menos, dois bons momentos: um regado a humor e sexo, e outro, num diálogo de esquina deliciosamente sensual e reconciliador. E como não poderia ser diferente, numa cidade repleta de luzes, sinais, táxis, símbolos, limousines e gente, a depressão também marca presença, mas é tratada de maneira lúdica na viagem de uma suicida em potencial. Nova York, Eu Te Amo é assim. Uma colcha de retalhos, mas de cetim, com todo o brilho, o glamour e o preço de se viver na cidade eternizada nas vozes de Frank Sinatra e Liza Minelli. E você pode até não morrer de amores por ela, mas tem todo o direito de se encantar pelo filme. O convite está feito. Basta entrar.