O filme é uma grata surpresa. A equivocidade com A Entrevista, com tema (pretendente a) cômico, (a)fundado na Coréia do Norte, é péssima indicação para este remake de filme baseado em peça polonesa. Sem o artigo a anteceder o nome, Entrevista nos presenteia uma soberba interpretação da atriz - que, aliás, tem-se esmerado em participar de filmes discutíveis, mas que também é capaz de reapresentar uma aceitável Tippi Hedren, então no papel da perseguida pelo mestre Hitchcock - Sienna Miller, e talvez também de Steve Buscemi. Em que pese a brutalidade psicológica previsivelmente hollywoodiana - há quem associe os diálogos a "Quem tem medo de Virgínia Woolf?", de Mike Nichols, e com Elizabeth Taylor e Richard Burton -, o texto permanece numa superfície apenas indicativa da profundidade que busca retratar. Dentro destes limites, a personagem idiota de Sienna é bastante para mexer com o anacrônico repórter de Buscemi. Talvez seja este o mote do filme: a juventude inconsciente da atriz popular versus o anacrônico, e já decadente, repórter. Sienna está talvez em seu próprio papel, daí a veracidade com que o empenha. Buscemi a acompanha, e o diálogo remete-os a funduras que já vimos, e sejam talvez quase vulgares. Mas os dois valem a pena. Em um bom momento do cinema.