Um bom recomeço
por Roberto CunhaO que você pretende ao se dirigir ao cinema para assistir um título como esse? A resposta para quem busca diversão de qualidade com direito a doses de emoção é única: vá sem medo de ser feliz. Já a turma que (por preconceito) gosta de comparar isso com aquilo, porque é fã da trilogia de Sam Raimi e do ator Tobey Maguire (ambos da trilogia Homem-Aranha), corre sério risco de perder um bom programa. Afinal, O Espetacular Homem-Aranha prometia recomeçar a história e conseguiu. Ponto. E caso não venha a ser arrebatador para muitos, parte da culpa deve-se ao excesso de teasers, trailers e vídeos divulgados antes da estreia, cortando (um pouco) o barato de ver determinadas cenas pela primeira vez. Mas o resultado final ainda é super (com trocadilho) satisfatório.
Criado pelo tio Ben (Martin Sheen) e tia May (Sally Field), o jovem Peter Parker (Andrew Garfield) faz o estilo meio na dele, é bom com os estudos, mas inversamente "ruim" com as meninas. Depois de tomar uma surra providencial do metidão da escola, ele conhece e se encanta de vez pela bela Gwen Stacy (Emma Stone), boa aluna e assistente do cientista Curt Connors (Rhys Ifans), um antigo parceiro do pai dele na poderosa Oscorp. Ciente de importantes anotações do paizão, Peter visita as instalações da empresa e acaba picado por uma aranha geneticamente modificada. Mais tarde, já com super-poderes, revela para Connors a solução de uma equação decisiva, dando início a uma experiência regada a obsessão pela evolução dos humanos, mas também orquestrada por desejos mais obscuros, que darão vida ao vilão Lagarto. Em paralelo, uma mente juvenil segue assombrada pelo sentimento de culpa e desejo de vingança fechando os elementos que nortearão a trama do início ao fim.
Deixando de lado a opção do estúdio por recomeçar do zero, o legal dessa produção é que ela permite ao espectador comum cair na teia do personagem sem muitas dificuldades e junto com ele. Num piscar de olhos, o roteiro cerca você de mistérios que envolvem o desaparecimento dos pais e a amizade deles com o tal cientista. Claro que existem licenças criativas para que determinadas situações sejam resolvidas de maneira rápida, mas é inegável que as angústias de um adolescente ligado em fotografia e Alfred Hitchcock estão ali. Um dos pontos altos, por exemplo, são os toques de realidade neste ambiente fantasioso, com o Aranha se ferrando (sem duplo sentido) diversas vezes ao longo da história. Além de cumprirem a função de aproximar o imaginário do real ao mostrar um herói machucado, rendem momentos engraçados.
Entre as curiosidades, destacam-se um merchandising "agressivo" da ferramenta de busca Bing do tio Bill (não confundir com Ben) Gates, a participação de C. Thomas Howell (obrigatório em filmes dos anos 80) no momento que o herói se identifica como Homem-Aranha pela primeira vez, um cultuado cubo mágico (resolvido) e uma impagável explicação para a origem da máscara do amigo da vizinhança. Visualmente bonito, as sequências de ação são empolgantes, o 3D as explora de maneira usual e entrega também boas nuances de profundidade. Se não agrega muito valor, também não atrapalha. Já a trilha do premiado James Horner (Titanic) dá o tom exato dos momentos de tensão, drama e encantamento. E ouvir "Til' Kingdom Come", do Coldplay, durante o êxtase do protagonista (ainda sem "responsabilidade") se divertindo com o skate e as correntes como se fossem teias, é mágico.
Baseado na criação de Stan Lee (que faz ponta cômica), o longa partiu de uma história de James Vanderbilt (Zodíaco), que também escreveu o roteiro na companhia das mãos experientes de quem fez os outros Homem-Aranha (Alvin Sargent) e a franquia Harry Potter (Steve Kloves). Na contramão, o novato Marc Webb (estreou no cinema com o "gostoso" (500) Dias com Ela de 2009) conseguiu imprimir seu estilo e, como era de se esperar, algumas sequências do casalzinho são tocantes. O diálogo sem jeito deles no corredor da escola ou a cena do primeiro beijo são ímpares. Aliás, o elenco está afiado e Garfield dá um show como o novo herói aracnídeo. Portanto, se a tia May diz para ele que "segredos têm um preço", esses aqui vão de graça para você: não perca essa aventura e não saia da sala quando as luzes se acenderem. Tem cena importante logo após o início dos créditos finais.