"Dúvida" (2008) nos mostra o embate entre uma freira ultraconservadora, que dirige um colégio religioso de Nova Iorque em 1964, e um padre progressista.
O duelo entre ambos já estava posto desde sempre pois, desde o início, fica claro que a freira já tinha restrições ao padre, baseando-se apenas na sua intuição, que apontava a ela que o padre era homossexual.
Os "motivos" que levam a freira, diretora da escola, a primeiro "desconfiar" do padre e depois, sem qualquer "prova", formar a sua convicção de que ele não apenas é homossexual, mas também pedófilo, são muito subjetivos, como por exemplo o fato dele usar as unhas um pouco mais compridas que o usual e o fato dela tê-lo visto, pela janela, segurando o pulso de um dos alunos.
A pretexto de "proteger" o primeiro aluno negro da escola, o qual, nas suas fantasias, estaria sendo assediado pelo padre, a freira acaba expondo todo o seu preconceito, homofobia e racismo, ao afirmar, por exemplo, que "esta paróquia serve a irlandeses e italianos, é inevitável que ele tenha problemas."
Como toda "pessoa de bem" que se preza, a diretora acredita que "os fins justificam os meios", sendo que acaba até mesmo constrangendo a mãe do aluno negro e mentindo (mesmo sendo uma freira!) no sentido de juntar "provas" para intimidar o padre.
Como um joguete, na batalha entre a freira diretora e o padre, e as suas respectivas visões de mundo, igreja e educação, está a Irmã James, uma freira jovem e idealista, que leciona para o oitavo ano. Ela se deixa inicialmente contaminar pelas fantasias da diretora (interpretada brilhantemente por Meryl Streep),
contribuindo involuntariamente para a vitória desta em relação ao padre, que acaba tendo de pedir transferência para outra paróquia.
Memorável o diálogo entre a diretora e a mãe do aluno, interpretada por Viola Davis, onde a mãe do aluno acaba por admitir, entre lágrimas, que o filho "tem esta orientação" e que este é o real motivo do pai não gostar dele e espancá-lo. Admite também que, devido à sua orientação sexual, o menino foi jurado de morte na escola pública, sendo este o motivo de estar estudando na escola religiosa.
A mãe fecha brilhantemente o diálogo ao afirmar, entre lágrimas, que "não sabe se ela e a diretora estão do mesmo lado. Que o seu lado é o lado de seu filho. Que ela está a favor do seu filho e daqueles que o protegem, o inspiram e fazem bem a ele (o padre)."
Infelizmente, dada a época dos acontecimentos, mesmo ano do golpe militar no Brasil, é evidente que o padre não iria ganhar a batalha. A saída honrosa dada a ele foi uma "promoção", por parte de seus superiores, que o transferiram para uma paróquia mais destacada, que também mantém uma boa escola.
Triste e lamentável este filme. Triste e lamentável porque muito ancorado na realidade. Todos os educadores deveriam assistir.