Esse filme já choca pela capa, pois na mesma se vê os seres manipulados geneticamente. Na locadora porém, em primeiro momento pensei serem seres extraterrestres, mas não se tratavam de homenzinhos verdes. Com supervisão de Guillermo del Toro, Splice é uma nova forma de ficção científica, usando de modo mais inteligente a computação gráfica, diferente daqueles trabalhos grosseiros de “Homem Aranha” e “Hulk”, onde parece que você está jogando vídeo-game e não vendo filme. Mas em Splice até que é convincente as animações de CG. O filme começa por criação de pequenos animais para fins farmacêuticos, manipulando os seus gens, e de forma escondida o casal de cientistas colocou gens humanos na experiência, desafiando toda a regra de bioética, criando um novo ser. Acaba porém dando algo errado.
O filme parece ser filmado em duas “locações”, dentro de um estúdio que imita laboratório e em uma fazenda, com certa mata e alguns pequenos lagos ou pântanos. Quando cresce, a “Frankenstein” criada pela manipulação genética assume comportamentos humanos, menos a linguagem falada, mas a linguagem corporal fala quando ela está com raiva, quando chega a puberdade, de forma que misteriosamente seduz o seu produtor homem, este não aguentando seus encantos, principalmente por conter gens de sua esposa, sugerindo que seria uma esposa mais jovem (fantasia masculina...). A Elsa, mãe artificial de tal ser monstruoso, se encanta tanto com sua filha, que fica obcecada e faz de sua vida uma dedicação a tal criatura, a qual envelhece de forma acelerada, porém apresentando características de retardamento mental, ainda brincando com suas bonecas e espelhos. Mas pouco a pouco a criatura feminina mostra suas garras, asas, armas, uma vez que foi produzida à partir de gens animais misturados a humanos, e assim tem grande mobilidade física e até poderes, surpreendendo os seus cientistas criadores, e também pais.
Splice é um filme diferente, assim como alguns que gosto de assistir. O final não é clichê, as coisas acontecem de forma mais realista, e apenas alguns exageros como as asas de morcego e a aparência final de quase vampira da criatura, mas no mais foi um filme único no gênero. Um “Frankenstein” para o nosso tempo, com nossa tecnologia. O que era para ser o bem da ciência, se tornou o mal. Isso já ocorreu quando Santos Dumont inventou o avião, e quando Einstein estudou a energia atômica, ambos pensando no bem da humanidade e suas descobertas sendo usadas para fins militares. A bioética também já o foi desafiada no Nazismo, com mil experiências e tudo mais, e assim sabemos que cedo ou tarde as coisas vão mudando, como ouvimos recentemente em julgamento por parte do Suprimo Tribunal Federal do aborto de feto sem cérebro, com anencefalia.
Mas nota-se que o monstro na verdade é uma bela e jovem moça, provavelmente adolescente e que suas patas ou garras são feitas por CG, mas que do resto sobre a sua graciosidade. Vemos que a manipulação da vida não é o mesmo que a criação da vida, e que apenas Deus cria a vida e a tira. Sabemos que leis naturais e leis cósmicas governam as coisas, e que o homem descobre apenas o que pode encontrar. Fato é que a ciência oculta e mesmo certas seitas de ufologia (Movimento Raeliano) sabem que o ser humano é resultado de manipulações genéticas várias, e que até chegar ao ponto onde está foi necessário muito trabalho em mesclas com animais, o que resta em mitologias de “deuses” misturados a bichos, como ainda vemos os do antigo Egito. Isso seja talvez em grande parte o que significa o mito da queda. Resta que a bioética tem de ser respeitada e o homem pode usar de sua ciência para o bem, sendo que se usar para manipular coisas monstruosas logo encontra o não apoio da Inteligência Cósmica, que logo intervem no ponto de mutação, no fim de um Aeon, como ocorreu em Atlântida, Sodoma e Gomorra, mitos que devem refletir alguma verdade histórica. O filme mesmo assim vale à pena e assusta para quem tem algum preconceito com relação a aparência e ao que é diferente. Quanto a mim, parece que estou acostumado, por ser um cidadão do Cosmo, não mais desse mundo apenas.
(Mariano Soltys, autor do livro Filmes e Filosofia, pela editora AGBook, em www.clubedeautores.com.br)