Fantasia à Grega
por Francisco RussoO sucesso das séries O Senhor dos Anéis e Harry Potter fez com que uma verdadeira corrida aos livros de fantasia fosse iniciada. Tudo para manter aceso o filão, oferecendo ao espectador novas variações do mesmo gênero. Percy Jackson e o Ladrão de Raios é o mais novo exemplar do tipo. Uma aposta com pedigree, visto o sucesso dos livros do personagem. Para assegurar uma transição bem sucedida foi trazido o diretor Chris Columbus, veterano dos dois primeiros filmes de Harry Potter, e ainda um conhecido elenco coadjuvante, que dá suporte ao jovem trio protagonista. Ou seja, a mesma fórmula usada para os filmes de Harry Potter é aqui aplicada.
Entretanto, muito do sucesso de filmes de fantasia se deve à ambientação de seu universo nas telonas. É aqui que está o maior trunfo de Percy Jackson e o Ladrão de Raios. Ao invés de criar um universo próprio, como fizeram J.K. Rowling e J.R.R. Tolkien, o autor Rick Riordan se apropria do vasto acervo da mitologia grega. Seres como Zeus, Poseidon, Medusa e outros tantos são conhecidos do grande público, o que de antemão rompe a barreira da apresentação e identificação com os personagens. É também uma forma de trazer ao público atual, especialmente o adolescente, uma vasta e significativa cultura de séculos atrás. É claro que há modificações em alguns personagens, de forma a atualizá-los e inseri-los na trama. Mas é também uma reciclagem que faz com que a mitologia grega volte à tona, sendo popularizada junto ao público.
A história gira em torno de Percy Jackson, adolescente que leva uma vida normal até ser atacado por um ser mitológico. Repentinamente, sua vida vira do avesso. Ele descobre ser um semideus, que tem poderes, que sua vida até então fora uma tentativa de escondê-lo, que é acusado de ter roubado uma poderosa arma e que é preciso fugir, em busca de um lugar seguro. A primeira meia hora é bastante similar às histórias de fantasia convencionais. Há o tutor, o local onde o protagonista está entre seus iguais, o treinamento para se ambientar à nova realidade... Tudo muito previsível e burocrático, uma mera apresentação do que está por vir. É apenas quando Percy e seus amigos Grover e Annabeth saem em missão que o filme se torna interessante.
Neste ponto entra em cena a mitologia grega. A Medusa não é apenas mais uma vilã a ser combatida, tendo participação inusitada e bem humorada ao longo da trama - inclusive com cena extra nos créditos finais. A hidra proporciona a melhor cena de ação do filme. A visita ao cassino diverte, também pela citação ao uso de entorpecentes. E há Hades, o deus do Mundo Inferior, que surge em versão pop. Ou seja, estão no filme diversas referências mitológicas, todas travestidas para os dias atuais. Não é necessário conhecê-las para compreender o filme, mas identificá-las é também uma iguaria oferecida pela história.
Percy Jackson e o Ladrão de Raios é um filme divertido, com boas cenas de ação e um elenco competente. É nítida a evolução do trio protagonista ao longo da história, acompanhando a maior experiência de seus personagens. Além disto, Chris Columbus está mais à vontade na trama, sem as amarras que excessivamente o prendiam ao texto dos livros nos filmes de Harry Potter. Destaque para o sátiro interpretado por Brandon T. Jackson e suas tiradas espirituosas, a presença de artefatos mágicos como o All Star voador e as citações subentendidas envolvendo Hollywood e o Empire State, em relação sobre o que tais lugares representam dentro do universo dos deuses.