Em primeiro lugar tenho o dever de frisar que eu gostei muito do filme anterior do diretor pernambucano Claudio Assis, "AMARELO MANGA"). A diferença entre o comportamento abjeto de alguns personagens de "AMARELO MANGA" e de "BAIXIO DAS BESTAS" é que no primeiro a crueldade ocorria como uma possibilidade, no último ela vem na forma de inevitabilidade. E nenhum homem escapa na região da Zona da Mata de Pernambuco retratada no filme. O avô (Fernando Teixeira) explora a sua neta, Auxiliadora (Mariah Teixeira). Para faturar alguns trocados leva a menina para um local próximo ao posto de gasolina onde os caminhoneiros que passam pela região transportando cana-de-açúcar, desnuda a menina, para que os "espectadores" se masturbem. Esta, por sinal, é a cena de abertura. O pior ainda está por vir. Um grupo de jovens de classe média liderados por Everardo (Matheus Nachtergaele) promovem bacanais num cinema em ruínas (é claro que o diretor tem ambições metalingüísticas) com prostitutas locais. Na verdade não vemos orgias, mas sim agressões gratuitas perpetradas por seres que são doentes. Na cabeça do diretor Claudio Assis, mostrar pênis, masturbação, proferir palavrões a cada frase é algo transgressor. Ninguém pertencente às classes médias do sudeste e sul do Brasil imagina que a vida das mulheres no Nordeste seja fácil. Igualmente ninguém tolera uma visão tão tosca do homem nordestino, que o diretor faz questão de demonstrar como na cena em que um cortador de cana ingere a seiva de forma animalesca. Filmes podem ter o papel de denunciar a realidade, mas não que para isso tenha de distorcê-la e querer alcançar a premiação em Festivais de Cinema explorando uma agressividade sórdida que existe mais na cabeça de quem dirigiu do que em quem é retratado.