Ao ler as críticas, sinceramente, estava esperando uma bomba tenebrosa. Ao assistir o filme, confesso que considerei interessante. Há alguns pontos a se destacar, principalmente no ambiente atual, onde se discute #timesup e produções como Big Little Lies. O tipo de "homem" retratado no filme - o interiorano, "caipira", metido a machista, assediador moral e sexual, preconceituoso - resumindo, um paranóide ensandecido e com problemas sexuais - é justamente o mal que se quer combater hoje. Não estamos falando de, talvez, do menos detestável destes personagens (representado pelo belo Alexander Skarsgard), que "até" têm seu charme (desnecessário expor mais este tópico, não mais do que as telas expõem o físico do ator no filme, a todo o instante). Porém, o personagem do treinador mais velho é simplesmente asqueroso, e confesso que o tesão do filme é você assistir a todas as injustiças, os bullyings e as provocações para além dos limites de uma sanidade mental normal terminar
com uma vingança digna de fogos de artifício por parte do personagem de Marsden. Ainda, ao meu ver, poderia ser mais cruel, porém neste sentido o enredo foi condizente com a realidade do personagem de Marsden - um pacifista, homem intelectual, urbano, que simplesmente se vê provocado a se defender brutalmente
. Concordo com as críticas à personagem feminina, de Kate Bosworth. Se os homens interioranos retratados no filme são o tipo de criatura que, em uma visão brutal (e retratada no filme), devem ser "erradicados", essa esposa histérica e adoecida psiquicamente também é o tipo de figura que não combina com personagens femininas fortes, retratadas em obras inclusive menos recentes. Embora a personagem ganhe em profundidade no desenrolar do filme
, até com um certo momento de "redenção",
ela representa o clichê da "mulherzinha" mimada, acostumada a ser bajulada pelos homens e desejadora disso, provocadora, e também a que "se faz de santa e de vítima" depois; visto que o tempo inteiro ela contraria o marido e faz questão de evidenciar o quanto ele é inadequado em relação aos "homens" de sua cidade, inclusive questionando sutilmente (como uma boa "cobrinha asquerosa") sua masculinidade. Se alguns críticos mencionam que é triste ver Marsden num projeto destes, aqui fica a crítica ao personagem de Marsden - intelectual, pacifista, urbano e bem-resolvido - ter como companheira uma mulherzinha "mixuruca", fútil e compassiva, se não propagadora, de uma cultura de valorização do preconceito, dos clichês e do machismo (claro que, como toda boa histérica, se faz de vítima depois, como se não tivesse nenhuma responsabilidade por todo o dano que provocou).