Nicholas Sparks é um escritor de sucesso. Praticamente todos os seus livros se tornaram best-sellers. E é claro que os estúdios de Hollywood viram em suas obras uma mina de ouro, daquelas quase inesgotáveis.
Começou em 1999, quando foi feito o primeiro filme baseado em uma obra de Sparks: "Uma Carta de Amor", praticamente desconhecido no Brasil. Mas foi o filme seguinte que confirmou o poder de bilheteria da obra de Sparks: "Um Amor para Recordar", inesperado sucesso de 2002. De lá para cá, mais cinco de seus livros foram adaptados para a tela grande: "O Diário de uma Paixão" (2004), talvez o melhor deles; "Noites de Tormenta" (2008); "A Última Música" (2010); "Querido John" (2010"; e seu mais recente, "Um Homem de Sorte" (2012). Sem contar "Safe Haven", ainda sem título no Brasil, que tem previsão de estreia para 2013.
Todos esses filmes têm um ponto em comum: romance, muito romance, daqueles água-com-açúcar clássicos. Em "Querido John", filme dirigido pelo sueco Lasse Hallström, não é diferente. John (Chaning Tatum), é um soldado do exército americano de licença em sua cidade natal que conhece Savannah (Amanda Seyfried), uma universitária de férias na cidade litorânea. Os dois se aproximam, vivendo grandes momentos juntos. John tem um pai praticamente autista, Bill (Richard Jenkins), com o qual vive uma relação de poucas palavras. Savannah se aproxima de John, e frequentemente de Bill, para tentar ajudá-lo com sua doença. Até que John se vê obrigado a voltar para o serviço militar por mais um ano, quando sua obrigação de servir o país acaba. Para que a separação forçada não abale o relacionamento, eles decidem escrever cartas um para o outro diariamente.
Perto do fim do prazo do serviço militar, Nova York sofre os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, abalando a confiança de John em voltar pra casa e abandonar seus companheiros de farda. É aí que entra uma questão importante: até que ponto o exército influencia as escolhas de um homem? A ligação entre o soldado e o exército é tão forte que o homem prefere arriscar sua vida em uma guerra a voltar para casa e ficar seguro com aqueles que o querem bem. Onde está a sanidade nisso? Como pode haver a preferência por arriscar sua vida no campo de batalha para tirar a vida de outros, tão humanos quanto ele? Mas infelizmente o filme não se aprofunda nessa questão. Prefere não criar polêmica e ver apenas o lado do mocinho patriota. Não que não seja honrado lutar por seu país, claro, já que cada um decide o que fazer da sua vida e escolhe fazer aquilo que gosta. Mas tirar a vida de semelhantes para defender um governo sanguinário que só quer vingança parece um tanto quanto egoísta.
Sentindo o relacionamento abalado, Savannah decide enviar uma última carta a John, terminando o namoro. Aqui a atuação de Chaning Tatum merece crédito, mostrando-se consternado com a separação de forma convincente. O destaque do filme fica por conta de Richard Jenkins, que demonstra segurança interpretando o pai doente de John. E é justamente a relação entre pai e filho que traz o momento mais bonito do filme, quando John lê uma carta emocionante para o pai, já debilitado em uma cama de hospital.
O filme segura bem o romance, mas a leitura das cartas e a distância forçada entre os protagonistas torna o filme por vezes maçante, monótono. O terceiro ato dá uma levantada no ritmo, mas não é o suficiente para salvar o final fraco e sem clímax. Com a história de um soldado obrigado a se separar de seu amor e de seu pai para enfrentar os perigos da guerra,o diretor Lasse Hallström tinha uma história promissora nas mãos, mas preferiu seguir a cartilha de trilha sonora tocante e dos momentos água-com-açúcar em vez de criar uma obra mais profunda e marcante. Talvez pelas obrigações da produtora, que quisesse a transcrição exata do livro para a tela. Não é um filme ruim, mas sinto que poderia ter sido melhor, se tivesse tido um controle menor do estúdio ou um diretor mais firme na condução da obra.
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