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    Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 1
    Críticas AdoroCinema
    4,0
    Muito bom
    Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 1

    Aventura sem emoção

    por Francisco Russo

    A série Harry Potter no cinema pode ser dividida em três fases. A primeira, englobando Pedra Filosofal e Câmara Secreta, teve o comando de Chris Columbus e serviu para definir o universo da autora J.K. Rowling na sétima arte. São aventuras que seguem, quase ao pé da letra, o que acontece nos livros. A segunda fase, formada por Prisioneiro de Azkaban e Cálice de Fogo, iniciou a era autoral na série. Tanto Alfonso Cuarón quanto Mike Newell, seus respectivos diretores, tiveram espaço para modificar regras pré-estabelecidas, como o visual dos personagens, e deixar algumas subtramas de fora. Uma atitude necessária, afinal de contas os livros eram cada vez maiores e mais difíceis de serem integralmente transpostos para a telona. É também a melhor fase da série, ao menos até o momento, graças ao ar de novidade que trazia ao público.

    Veio então a era David Yates, com Ordem da Fênix, Enigma do Príncipe e, agora, Relíquias da Morte - Parte 1. Yates era um diretor sem muita experiência até a série Harry Potter. Havia dirigido um único filme para o cinema, o obscuro The Tichborne Claimant, e algumas minisséries e telefilmes. Logo em seu primeiro filme na série, mostrou o cartão de visitas. Era um diretor competente, que sabia usar os elementos da magia para criar situações divertidas, mesmo que apenas visuais, mas que não conseguia transpor a importância dos principais momentos nos livros. Assim foi com as mortes de Sirius Black e de Dumbledore, ambas muito aquém do impacto que provocaram no universo retratado. O resultado é sempre um filme correto, bem feito, mas incapaz de emocionar. E que deixa uma ponta de frustração exatamente por isso.

    Com Relíquias da Morte - Parte 1 acontece o mesmo. O filme tem um bom início, apresentando através da logomarca da Warner a destruição do mundo da magia até então conhecido. A sequência de Hermione apagando a memória dos pais, no intuito de protegê-los dos perigos iminentes, é simples e dolorosa. Em seguida vem a primeira cena de ação, quando Harry Potter precisa deixar a casa dos tios rumo ao lar dos Weasley. Trata-se de uma verdadeira batalha aérea, com o espocar dos feitiços lançados em todos os cantos, que Yates tenta trazer, na medida do possível, para a realidade de Londres. A partir de então, lá vem história. E das grandes.

    "Harry Potter e as Relíquias da Morte", o livro, é dos mais longos de toda a série. Há nele diversas referências, de forma a moldar uma conclusão onde o caminhar do herói e seus amigos ao longo dos seis livros anteriores realmente teve relevância. O filme mantém esta filosofia, o que exige que o espectador entre no cinema já conhecendo algo da série. Para compreender Relíquias da Morte - Parte 1 é preciso, pelo menos, ter assistido os filmes anteriores. Ou seja, este é um filme para não iniciados. O que não é ruim, muito pelo contrário. Se o filme, sem explicações didáticas, já tem 146 minutos, caso elas estivessem presentes sua duração aumentaria muito mais. Fora o prejuízo para a própria narrativa da história.

    Narrativa esta que passa voando ao longo do filme, ainda mais se comparada com o livro. É verdade que não há omissões e os fatos são bem encadeados, mas são apresentados em tamanha velocidade que mal há tempo para refletir sobre o ocorrido. Isto também prejudica as atuações, já que os personagens estão, quase sempre, ou fugindo ou lutando. Há poucos momentos em que se exige algo mais dos atores, como na cena em que Daniel Radcliffe teve que compor diversas personalidades para seu personagem e a cena da briga entre Harry Potter e Rony Weasley.

    Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 1 é um bom filme, especialmente pelo cuidado tido em sua confecção. Há um capricho visível nos efeitos especiais e no lado visual, sempre realçando o lado sombrio pelo qual o momento da saga como um todo passa. Apesar disto, decepciona pelo que poderia vir a ser. Tivesse caído em mãos mais talentosas, que soubessem explorar melhor os momentos chave da história, o filme seria muito melhor.

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