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    Liga da Justiça
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    Liga da Justiça

    Deu liga

    por Lucas Salgado

    Já pedindo perdão pelo trocadilho, informo ao leitor que finalmente deu liga no universo cinematográfico da DC. Não estamos diante do primeiro bom filme do estúdio - Mulher-Maravilha já havia feito bonito neste sentido -, mas pela primeira vez há de fato a sensação de que estamos diante de algo maior, de algo que vale a pena ser mais explorado.

    Após o irregular Batman vs Superman e o trágico Esquadrão Suicida, é muito bom ver os personagens da DC ganhando destaque e profundidade em cena. E este é justamente o ponto principal: desenvolvimento de personagens. A Warner finalmente conseguiu fazer com que o público se interessasse por todos os protagonistas, criando um cenário em que todos são importantes para a história e todos ganham espaço para brilhar. 

    Seria um erro fazer um Liga da Justiça em que apenas Batman, Superman e Mulher-Maravilha são importantes. Obviamente, são os nomes mais reconhecidos, mas Flash, Aquaman e até Cyborg ganham espaço quase tão importante em cena. Se a dinâmica e interação entre os heróis era algo que não funcionava em BvS - como esquecer da conexão "Martha" -, aqui é um dos destaques, graças a uma boa química e a um elenco talentoso e carismático.

    Gal Gadot está cada vez mais confortável no papel de Diana Prince, mostrando sensibilidade e, é claro, muita força e determinação. Já Batman tenta lidar com a culpa pela morte do Superman, ao mesmo tempo em que lida constantemente com sua própria mortalidade e humanidade em um time de super-heróis. Ben Affleck segue bem no papel, passando de forma clara a impressão de que estamos diante de um sujeito já cansado de tudo aquilo, mas que sabe que deve continuar lutando. Os novos nomes (Ezra MillerJason Momoa e Ray Fisher) não decepcionam, embora o primeiro pode incomodar um pouco os fãs do tom sombrio da DC, uma vez que o Flash aqui é praticamente o alívio cômico do filme. Há, de fato, um exagero, mas ele entrega sim alguns momentos bem divertidos.

    Para completar o time, como todo mundo já sabia, Henry Cavill retorna como Superman e tem sua melhor participação no papel. O Homem de Aço, que sempre foi um herói problemático, uma vez que o fato de ser praticamente imbatível prejudica a criação de situações ameaçadoras, aqui surge de forma imponente, mas também marcada por sua morte. O retorno do herói é o ponto mais alto da produção, propiciando uma ótima cena de ação e um tocante reencontro. 

    Se por um lado, a presença de Cavill é um destaque. Por outro, oferece um dos momentos mais revoltantes do filme, que é a abertura, que lembra um pouco o clima de Homem-Aranha: De Volta ao Lar. Mas este não é o problema, mas sim o fato do ator surgir com o rosto bem deformado, consequência da retirada digitalmente do bigode que não pôde tirar por causa das gravações de Missão Impossível 6. Ficou tão artificial que gera o questionamento se realmente valia a pena manter a cena.

    Falando em cenas de ação, é importante destacar que tivemos uma grande evolução com relação aos filmes anteriores, inclusive Mulher-Maravilha. A opção por confrontos em ambientes claros valorizou o trabalho da equipe de efeitos visuais e evitou aquele cenário borrado do final de BvS.

    Sem querer despertar o ódio dos fãs da DC, é evidente que há uma clara "marvelização" no que diz respeito ao tom do universo cinematográfico. Além dos confrontos com luminosidade, Justice League (no original) investe bastante no humor e nos momentos mais simpáticos, que ajudam a criar empatia pelos personagens. Dentre as semelhanças com o universo Marvel, agora negativamente, destaca-se a presença de um vilão pouco interessante e nada desenvolvido. O Lobo da Estepe (Ciarán Hinds) é uma figura pouco ameaçadora e seus "ajudantes" são tão dispensáveis como os milhares de alienígenas vistos no primeiro Vingadores ou os robôs comandados por Ultron na sequência. 

    Embora incômodas para os fãs, as comparações entre DC e Marvel ficam ainda mais inevitáveis diante da entrada de Joss Whedon no projeto. Ele é um dos roteiristas do filme e também dirigiu parte das filmagens, após o afastamento de Zack Snyder por causa de uma tragédia pessoal. O crédito de diretor, no entanto, segue apenas com Snyder, enquanto Whedon divide o roteiro com Chris Terrio (Argo e Batman vs Superman).

    A chegada de Whedon no universo DC é positiva. Não apenas pelo bom trabalho na Marvel, mas pelo fato de ser um nome criativo e talentoso. No entanto, a entrada repentina em Liga da Justiça não foi o cenário ideal. O filme conta com problemas claros de construção da narrativa, seja no roteiro, seja na montagem. Há a clara impressão de que foi uma obra remontada, com visões conflitantes trabalhando numa só produção. Sendo mais direto, o longa é uma bagunça. As apresentações são jogadas de forma pouco naturais e o vilão surge de forma aleatória e pouco impactante em diversos momentos. A bagunça, no entanto, é suavizada por heróis realmente cativantes e por um cenário geral que merece ser explorado.

    Conhecido pelas trilhas dos filmes de Tim Burton, o compositor Danny Elfman volta a trabalhar num filme da DC 25 anos após Batman: O Retorno. Ele faz um trabalho realmente interessante, principalmente por unir a sua trilha para Batman, a de Rupert Gregson-Williams para Mulher-Maravilha, e o clássico tema de John Williams para Superman - O Filme. E as referências aos filmes anteriores da DC (além do presente universo) não estão apenas na trilha, mas em frases e até poses presentes no roteiro. É interessante ver Cavill fazendo a clássica pose de Christopher Reeve.

    Ao final, temos duas cenas pós-crédito, uma bobinha e uma realmente importante. É fundamental que o espectador permaneça na sala até o último segundo. Liga da Justiça não é o filme perfeito, mas é uma luz de esperança no universo da DC. É a obra que consegue ser tudo aquilo que os fãs de Batman vs Superman fingem que ele é.

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