Obra de 2011 dirigida por Darren Aronofsky (Requiem para um Sonho), com Natalie Portman (Nina Sayers), Vincent Cassel (Thomas), Mila Kunis (Lily) e Winona Rider (Beth).
O filme conta a história de Nina, uma jovem bailarina de uma companhia de dança que após anos de dedicação, recebe o papel da "rainha do lago" em uma versão do "Lago dos Cisnes".
Obcecada com sua perfeição, Nina entra em um universo de alucinações e paranoia, até chegar a um ato extremo.
Acredito que para entender um pouco este complexo filme, é preciso conhecer a história "O Lago dos Cisnes"
A princesa Odette é mantida em cativeiro por um feiticeiro que lança sobre ela um terrível encanto: durante o dia ela seria cisne, e somente à noite se tornaria humana. Para quebrar o feitiço, Odette deveria encontrar um homem que a amasse por toda a vida.
O príncipe Seigfried sai para caçar cisnes no seu 21° aniversário, noite em que também haveria um baile e ele deveria escolher sua esposa dentre as moças do reino. Já estava anoitecendo e o príncipe avista Odette no lago, encantado com sua beleza, ela conta seu segredo e ele jura amor eterno, no entanto, durante sua festa o bruxo von Rothbart aparece com a gêmea má de Odette, o Cisne Negro Odile.
Enfeitiçado pela sensualidade de Odile, Seigfried a escolhe, mas o príncipe descobre a farsa e vai atrás de Odette. Já quase amanhecendo, Seigfired pede perdão à sua amada e os dois se jogam no lago fazendo com que o bruxo perdesse todo o seu poder, e os dois amantes pudessem assim encontrar a libertação.
Este é um resumo do balé mais famoso do mundo e que inspirou Aronofsky a produzir a obra-prima que é Cisne Negro. Sempre admirei seu trabalho desde quando assisti ao experimental "PI", passando por filmes mais conhecidos como "Requiem para um Sonho", "Fonte da Vida" e "O Lutador".
A evolução técnica dos seus trabalhos é algo visível. Desde a escolha do elenco, até o figurino, maquiagem, mas tem pelo menos um aspecto que ele não muda: a câmera. Aronofsky filma os personagens de uma forma que o telespectador entre naquele mundo. Foi assim em todos os seus filmes, e não poderia ser diferente em Cisne Negro.
Com uma mega produção, elenco de primeira, Darren Aronofsky posiciona a câmera com esse seu jeito único, e nos faz entrar nas alucinações de Nina. Aliás, quem é Nina?
À princípio vemos uma moça pudica, extremamente centrada na dança e superprotegida pela mãe. Uma verdadeira princesinha. Nina não vive, não tem amigos, é a típica pessoa que pede desculpas até por sua existência.
Quando é escolhida para interpretar a rainha dos cisnes, ela entra em total estado de obsessão e loucura, pois ela e Thomás sabiam que sua maior dificuldade seria a de interpretar o Cisne Negro.
Certa vez li uma crítica à respeito deste filme que dizia o seguinte: "Aronofsky reduziu o trabalho das bailarinas ao sexo." Isso porque Thomas pede que Nina se masturbe, que se deixe levar, que viva! Não entendo de danças, mas discordei completamente desta frase. Ora, Nina interpretaria uma personagem virginal, pura e outra maléfica, sexy, é claro que esse lado precisava ser trabalhado, ou melhor, vivenciado!
Tanto na história original do Lago dos Cisnes como no filme Cisne Negro, vejo claramente a eterna luta entre o bem e o mal. O bem e o mal que todos carregamos dentro de nós porque somos humanos e buscamos desesperadamente para que ambos estejam em equilíbrio, caso contrário sucumbimos. Cisne Negro foi genial em mostrar esse embate, até mesmo na polêmica, mas imaginária, cena lésbica entre Nina e Lily em que fica clara a "transformação de Odette para Odile".
Outro aspecto que é mostrado é a rivalidade existente nos bastidores das companhias de dança, inveja, a troca de bailarinos como se fossem bonecos, Beth foi trocada por Nina sem o seu consentimento. A luta para manter o peso ideal. No balé e no mercado da moda é onde estão a maior incidência de bulimia e anorexia. Não é preciso ser especialista em saúde mental para saber que Nina sofria de bulimia, tudo pela arte, tudo pela perfeição, tudo para não ser descartada.
E quanto a Thomas? Thomas é o professor impiedoso que exige o máximo de Nina. Vincent Cassel ficou muito bem no papel de canastrão sádico.
E para quem criticou o Oscar de Natalie Portman só tenho uma coisa a dizer: O Lago dos Cisnes é um dos balés mais difíceis de representar justamente porque a bailarina principal precisa representar Odette/ Odile. É claro que Aronofsky precisava de uma atriz que além de ter estudado balé (Portman não faz todas as cenas, há dublês), ela também teria que ser capaz de representar o bem e o mal. Natalie simplesmente brilhou. Se você ainda não assistiu, confira você mesmo!