O Lago dos Cisnes sombrio!
CISNE NEGRO (Black Swan).
Darren Aronofsky dirige um dos melhores (se não o melhor) filmes de sua carreira. O longa usa como trama central o balé clássico Russo "O LAGO DOS CISNES", mas com uma pitada sombria bem à cara de Aronofsky.
CISNE NEGRO é um suspense bastante enigmático, sombrio, macabro, onde podemos observar uma protagonista inocente de início, porém bastante perturbada psicologicamente na busca incansável pela perfeição. O longa usa como referência o balé, mas de uma forma mais leve, sendo que as subtramas é o que realmente nos chama a atenção e nos prende. Achei bem interessante a maneira como o roteiro lida com a forma surrealista da protagonista, mostrando toda sua vulnerabilidade e a obsessão em se tornar a bailarina perfeita. O que lhe trazia problemas pessoais muito sérios, muitas das vezes por ter que lidar diariamente com o machismo, a rigidez, a inveja, a opressão, as fortes cobranças, o que lhe causava uma forte pressão psicológica e fortes alucinações.
Natalie Portman está em sua melhor apresentação!!! Uma bailarina bastante delicada e meiga, que teve a oportunidade da vida ao assumir o posto de bailarina principal da companhia. Nina tinha que lidar com a super-proteção da mãe e a cobrança em seguir seus passos, o que não lhe ajudava, pelo contrário, só lhe atrapalhava. Tinha que se submeter as cobranças e os abusos excessivos do seu diretor artístico e a inveja que as outras bailarinas tinham dela. Natalie teve uma entrega à personagem incrível, se submetendo a perder 10kg pra se encopar em sua personagem. Uma atuação forte, verdadeira, objetiva, que se passava por momentos mais dramáticos e mais pesados. Natalie Portman deu um show, uma aula de atuação (ganhando tudo que foi indicada, como GLOBO DE OURO, BAFTA, INDEPENDENT SPIRIT AWARDS) e foi merecidamente coroada com o Oscar de Melhor Atriz em 2011.
O longa de Aronofsky tem suas qualidades peculiares que merecem ser destacadas. Como a trilha sonora do compositor Clint Mansell, que trabalha com o diretor há muitos anos. Uma trilha sonora leve, suave, que nos envolve e nos puxa pra dentro da trama. Tem partes em que a trilha sonora é mais pesada e mais tensa, contribuindo diretamente com as cenas mais sombrias do filme. A fotografia mais escura, com um tom mais acinzentado e morto, também merece um destaque, apesar do longa se passar praticamente 100% do tempo à noite.
Mila Kunis fez o feijão com arroz, mas até que ela esteve bem no papel da amiga invejosa de Nina. Lilly viajou de São Francisco para intervir e atrapalhar os planos de Nina, se colocando em seu caminho como uma amiga que queria ajudar, mas na verdade, ela chamou a atenção da companhia e se tornou uma forte concorrente e usava dos métodos mais sujos pra conseguir chegar até aonde queria. Mila Kunis fez direitinho o seu papel, apesar de não lhe exigir muita coisa (destaque para a bela cena lésbica entre Mila e Natalie).
Gostei muito do trabalho de Vincent Cassel em Cisne Negro. Ele deu vida a Thomas Leroy, o diretor artístico da companhia de balé, que usava seus métodos mais perversos e mais exigentes, colocando uma forte pressão sobre Nina, com cobranças e abusos excessivos. Bela atuação de Vincent, o que me fez lembrar do personagem de J. K. Simmons em WHIPLASH, ambos usavam suas formas mais absurdas pra tentar extrair a perfeição. Na minha opinião, merecia pelo menos uma indicação ao Oscar para Vincent Cassel. Se ele iria ganhar, aí já é outra coisa, mas pelo menos a indicação pra coroar seu belo trabalho apresentado em Cisne Negro já estava de bom tamanho.
Barbara Hershey fez Érica, a mãe de Nina, outra personagem que me chamou bastante atenção. Uma ex-bailarina que teve que abandonar seu sonho por causa de sua gravidez, sendo que agora, ela mantém uma posição bastante desconfortável perante Nina, se passando como a mãe super-protetora, que só queria proteger sua doce criança, quando na verdade, ela queria que Nina seguisse seus passos no balé, mas parecia não saber lidar com o sucesso alcançado pela filha na companhia. Outra apresentação que me remete a personagem de Melissa Leo no ótimo filme "O Vencedor", ambas agindo como uma mãe super-protetora de uma forma bem diferente, onde até os seus carinhos e cuidados eram vistos e interpretados de uma outra maneira.
É sempre um grande prazer poder acompanhar um trabalho de Winona Ryder. Em Cisne Negro, Winona deu vida a personagem Beth MacIntyre, a principal e talentosa bailarina da companhia. Porém, ela irá se aposentar do cargo, mas me pareceu ser uma aposentadoria forçada, quando podemos observar um comportamento com resquícios de tristeza e fúria, quando o assunto é o diretor artístico Thomas Leroy. Winona Ryder teve uma participação menor no longa, mas em cada aparição, ela se destacava de uma forma muito interessante.
CISNE NEGRO integrou a lista dos indicados ao Oscar 2011 em 5 categorias, incluindo a de Melhor Diretor para Darren Aronofsky e Melhor Filme, levando apenas a estatueta de Melhor Atriz para Natalie Portman. O longa ainda ganhou indicações e prêmios no GLOBO DE OURO, BAFTA, INDEPENDENT SPIRIT AWARDS e SATELLITE AWARDS. Sendo o filme de abertura do Festival de Veneza em 2010.
Eu sempre tive um pé-atrás com o Aronofsky, mas dessa vez ele me surpreendeu e me apresentou um ótimo filme!!!