Filme fantasma
por Bruno CarmeloBeaufort é uma obra misteriosa. É um filme de guerra sem guerra, sem heróis nem vilões, que não adota um ponto de vista específico sobre o seu tema. Sem saber por onde analisar esta produção, alguns críticos foram buscar pontos de referência em outros gêneros cinematográficos, comparando o filme a uma ficção científica (pelo caráter absurdo, quase fantástico do tema), a um faroeste (pela presença de homens perdidos em espaços vazios) e até aos road movies (pelos caminhos abertos, pela deambulação dos homens que nunca chegam a lugar algum).
O fato é que esta produção não é exatamente uma reflexão poética sobre o humanismo em tempos de batalha, como Terra de Ninguém, nem uma crítica acirrada ao belicismo, como o Redacted de Brian De Palma, tampouco é uma paródia do gênero como MASH. Este é um filme que ousa retirar do espectador seus pontos de imersão: quando achamos ter no desarmador de bombas Ziv (Ohad Knoller) um protagonista, ele é retirado do centro da história; quando achamos que o comandante Liraz (Oshri Cohen) assumirá o papel principal – como sugere o cartaz brasileiro, com seu rosto estampado – vemos que ele é apenas um homem a mais, e que a história nunca é narrada pelo seu ponto de vista. O público é mantido à distância, nunca convidado a participar da narrativa ou torcer por alguém.
Além da ausência de um contexto definido, o filme também escolhe retirar da imagem o conflito. São poucas bombas, poucos ataques, lançados de lugar nenhum, por adversários invisíveis. Os soldados israelenses ficam presos no castelo de Beaufort, no Líbano, sujeitos a um impasse: não podem revidar, por falta de ordens, e nem podem partir do forte, para não darem a impressão de que Israel se rende face à nação vizinha. Eles são obrigados a ficarem parados onde estão, esperando algo acontecer, e ao mesmo tempo temendo justamente que algo aconteça.
A inutilidade desta situação é vista simultaneamente como absurda e entediante. Pode parecer coerente tratar o tédio dos soldados com imagens lentas e monótonas, mas Beaufort corre o risco de simplesmente perder a atenção de seu espectador nesta busca conceitual. O público pode dizer "e daí?" diante deste conflito, sem se questionar sobre sua própria passividade. Em outras palavras, retratar a passividade da guerra pode ser algo muito interessante, mas não incitar a refletir sobre esta postura pode constituir um problema. O moralismo é algo questionável em um filme do gênero, mas a ausência completa de complexidade moral também pode sê-lo.
O espectador pode sair de uma sessão de Beaufort sem saber exatamente o que viu, nem por que esta história foi contada. O que queria o diretor? Para onde vai esta crônica letárgica? Alguns poderão considerar louvável a postura imparcial do filme, mas outros ficarão simplesmente à espera que o filme tome alguma postura, seja ela ideológica ou cinematográfica. Em sua transparência e modéstia, características certamente voluntárias, Beaufort escapa por entre os dedos, mistura-se às centenas de imagens que qualquer espectador já viu sobre as guerras. Pior do que passar por um filme ruim, esta obra cerebral pode simplesmente se transformar em uma experiência esquecível.