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    Reencontrando a Felicidade
    Críticas AdoroCinema
    1,5
    Ruim
    Reencontrando a Felicidade

    Ainda é Cedo

    por Francisco Russo

    Poucas situações são tão devastadoras quanto a perda de um ente querido, seja por qual motivo for. Por mais que se tente imaginar é impossível mensurar a dor sem, de fato, vivenciá-la. Não foi à toa que John Cameron Mitchell, dos polêmicos Hedwig – Rock, Amor e Traição e Shortbus, resolveu assumir a direção de algo tão diferente de sua filmografia habitual. Ele conhece bem esta dor, através da perda de um irmão de apenas 10 anos. Um trauma de sua vida que se reflete na forma delicada e sensível com a qual trata o difícil tema da morte diante de um casal que precisa, de alguma forma, encontrar um meio de seguir em frente.

    Reencontrando a Felicidade – péssimo título nacional, que engana o espectador – apresenta a vida do casal Becca (Nicole Kidman) e Howie (Aaron Eckhart), oito meses após a perda do pequeno Danny, de apenas quatro anos. Ambos tentam levar a vida adiante, em um esforço hercúleo para retornar a uma normalidade impossível. A todo instante está a lembrança do filho, seja de forma intencional ou através de memórias que volta e meia surgem. O casal carrega consigo uma dor profunda, da qual não consegue e não quer se libertar, sem saber direito o que fazer com ela. Raiva? Choro? Incompreensão? Fuga na religião ou em grupos de apoio? Mudança? São todas táticas possíveis, que podem até amenizar a dor mas jamais saciá-la.

    Por conhecer a sensação, John Cameron Mitchell sabe bem que apenas o tempo ajuda. Tempo que por vezes parece interminável e extremamente lento. “Se tem dias bons, as coisas vão melhorar”, um personagem diz. “Se um dia passa? Muda. Torna-se suportável”, afirma a mãe de Becca. Mas como lidar com a dor até que chegue neste estágio, em que é possível viver com ela sem ser engolido pela mesma? É este o momento de Becca e Howie, que reagem ao trauma de forma distinta mas, sempre, juntos. Mesmo que tentações, físicas e psicológicas, surjam no momento mais adverso de suas vidas.

    Reencontrando a Felicidade é um filme de diálogos extremamente sutis e realistas. O silêncio por vezes ensurdecedor e o clima mais lento são necessários à história, bem como momentos simples mas que representam muito aos personagens devido à carga emotiva que carregam. Trata-se de um filme sobre como lidar com a morte, não exatamente o modo como ela acontece mas o que vem em seguida. Poderia facilmente virar um melodrama, mas John Cameron Mitchell optou por mostrar o difícil caminho de convivência entre a dor e a vida. Duro, triste e sensato.

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