Não foi dessa vez
por Lucas SalgadoConhecido como Padrinho do Soul, James Brown é um dos maiores nomes da música americana. Não só escreveu seu nome na história com músicas de sucesso como "I Got You (I Feel Good)", "Say It Loud – I'm Black and I'm Proud" e "Get Up (I Feel Like Being a) Sex Machine", como contou com uma história de vida rica em reviravoltas e polêmicas.
Era o candidato ideal para receber uma cinebiografia, afinal teve uma vida cinematográfica. Infelizmente, o projeto caiu nas mãos do burocrático diretor Tate Taylor, responsável pelo fraco (ainda que premiado) Histórias Cruzadas, que conta a história de como uma garota branca solucionou o racismo.
Futuro Pantera Negra, Chadwick Boseman é o principal responsável por salvar o filme de ser um completo desastre. Ele tem uma grande atuação como James Brown, se destacando nos momentos dramáticos, mas principalmente nas cenas em que precisa dançar no palco. Não é fácil assumir a responsabilidade de ter a mesma presença que Brown em um palco.
Grande destaque de Histórias Cruzadas, Viola Davis interpreta a mãe de Brown e se sai bem, embora tenha pouco espaço para brilhar. O elenco conta ainda com nomes como Nelsan Ellis, Dan Aykroyd, Lennie James, Allison Janney, Craig Robinson e Octavia Spencer. A maioria se sai bem e cumpre o exigido, embora Ellis, conhecido pela série True Blood, transmita a impressão de que não está muito confortável em cena.
O filme não esconde elementos mais obscuros e detestáveis da personalidade do artista, que era agressivo com as mulheres e destratava outros membros de sua banda. No entanto, tudo é tratado de forma muito superficial. A impressão que dá é que estamos diante de uma obra superficial que em nenhum momento quis mesmo explorar o artista por completo. O recorte da infância até o fim da vida não ajuda muito. É muita coisa para um longa contar sem deixar buracos.
Não foi dessa vez que James Brown ganhou a cinebiografia que ele merece. O pior é que a existência deste longa pode muito bem impedir que outro sobre o artista ganhe vida. Estamos diante de uma cinebiografia repleta de clichês e desprovido de conteúdo. Seria um bom episódio especial do Globo Repórter. Como cinema, fica devendo.