O Filme “A Pele que Habito”, de 2011, foi feito sob a direção do espanhol Pedro Almodóvar, com um forte elenco, como Antonio Banderas, que vive o cirurgião plástico Robert Ledgard, Elena Anaya, que vive “Vera”, Marisa Paredes, interpretando Marília, Jan Cornet (Vicente), Blanca Suárez (Norma), dentre outros em um time sem rastros de defeitos.
Para começar, confesso que o classifico como aqueles filmes que você não consegue ter uma reação muito automática ao terminar de assistir. Para mim, ao menos, foi dessa forma. Partindo da premissa de ser um filme de Almodóvar, não difere de sua usual temática ao abordar ações humanas impulsionadas pelo desejo. Intrigante, criativo, original, imprevisível….levanta questões intensas e muito atuais, como a biotecnologia, a transgenitalidade, dependência emocional, doença mental e limites éticos.
Justiça, injutiça, perda do senso ético, a exemplo de questões emocionais fortes que envolvem a empregada que cuidou de Robert Ledgard, mesmo sem este saber que ela seria a sua mãe, dado que sua mãe de criação era estéril e adotou Robert como se fosse seu filho. Bom, até aí, parece um problema de família até comum.
Mas, os questionamentos que mais me marcaram foram refletir sobre a conduta do personagem “Robert Ledgard”, ao utilizar seus fartos recursos em pesquisa científica, empregadas em um ser humano – teoricamente culpado de algo – pelo seu interesse pessoal na questão. Isso porque Robert perdeu sua esposa em um trágico acidente de carro, ao fugir com o amante – que era, em verdade, mesmo sem saber, irmão de Robert. Faleceu carbonizada. Enfim, falta fôlego até para descrever.
Não contente nessa imensidão de incógnitas emocionais e polêmicas, Robert recria sua ex-mulher utilizando-se do pretenso algoz de um estupro inexistente contra sua filha. Não parando ai, passa a se relacionar com a sua criação, que nada mais é do que uma vítima ao ser pego pelo cirurgião e, contra sua vontade, ser submtido a uma cirurgia de troca de sexo e ser mantido em cárcere prívado, até o dia que conseguiu escapar do pesadelo.
Nessa ótica, para quem quer alfinetar nossos ideias não só sobre a ética na medicina, como refletir o que pode um humano ferido emocionalmente e que não tem mais nada a perder, temos aí um belo filme. Os limites são consensuais e se deparar com tamanha diversidade não só é polêmico como desafiante.