Lançado em 2011 pela DreamWorks Animation, Gato de Botas (Puss in Boots) representa um desdobramento do universo Shrek, funcionando como uma prequela da franquia e explorando a origem de um dos personagens mais carismáticos da saga. Dirigido por Chris Miller e estrelado por Antonio Banderas, Salma Hayek e Zach Galifianakis, o longa aposta em uma narrativa de aventura inspirada em contos de fadas e filmes de assalto, estabelecendo um tom distinto dos filmes principais de Shrek. Com um orçamento de aproximadamente US$ 130 milhões, o filme arrecadou cerca de US$ 555 milhões mundialmente, consolidando-se como um sucesso comercial e levando à produção de uma sequência, Gato de Botas 2: O Último Pedido (Puss in Boots: The Last Wish, 2022). Apesar de seu desempenho financeiro, a recepção crítica foi variada, com elogios ao estilo visual, à dublagem e à ação envolvente, mas críticas ao desenvolvimento do roteiro e à previsibilidade da trama.
A história segue o Gato de Botas antes dos eventos de Shrek 2 (2004), mostrando sua juventude na cidade de São Ricardo e sua amizade com Humpty Dumpty, um ovo antropomórfico com uma mente brilhante para golpes e planos elaborados. Depois de um assalto malsucedido ao banco da cidade, Gato se torna um foragido, enquanto Humpty é capturado. Anos depois, ele descobre que Humpty ainda está vivo e planeja um grande roubo envolvendo os feijões mágicos da fábula João e o Pé de Feijão. Relutante, mas seduzido pela possibilidade de limpar seu nome, o protagonista se une a Humpty e à ladina Kitty Pata-Mansa em uma jornada para roubar os feijões dos bandidos Jack e Jill, subir até o castelo dos gigantes e capturar a Gansa dos Ovos de Ouro.
A estrutura do enredo se assemelha a um heist movie (filme de assalto), misturando elementos clássicos de histórias de roubo, traição e redenção. Essa abordagem cria uma dinâmica interessante, afastando o filme do humor satírico de Shrek e focando em uma aventura mais tradicional. Entretanto, a previsibilidade da narrativa e a falta de um grande antagonista impactam o ritmo da trama. Enquanto Humpty Dumpty serve como uma figura dúbia, os vilões Jack e Jill não são suficientemente desenvolvidos para representar uma ameaça convincente. Apesar disso, a reviravolta final sobre a verdadeira natureza de Humpty adiciona uma camada emocional ao desfecho, reforçando os temas de aceitação e pertencimento.
As atuações de voz são um dos pontos altos do filme. Antonio Banderas retorna como o Gato de Botas, trazendo seu charme característico e uma performance cheia de energia e carisma. A influência da persona de Banderas na construção do personagem é evidente, com um tom de voz que remete a figuras heroicas do cinema espanhol, como Zorro. Salma Hayek entrega uma interpretação igualmente cativante como Kitty Pata-Mansa, transmitindo uma mistura de mistério e sedução. Já Zach Galifianakis, como Humpty Dumpty, oferece uma performance diferenciada, equilibrando um tom manipulador e trágico que adiciona profundidade ao personagem.
O roteiro, escrito por Tom Wheeler, segue uma estrutura convencional, combinando elementos de ação, comédia e fantasia. A inserção de referências a contos de fadas é uma marca da franquia Shrek, e Gato de Botas não foge à regra, incorporando elementos de João e o Pé de Feijão, A Gansa dos Ovos de Ouro e Chapeuzinho Vermelho. No entanto, a sátira e a metalinguagem, que tornaram os primeiros filmes de Shrek inovadores, são menos proeminentes aqui. O humor se baseia mais nas interações entre os personagens e no charme do protagonista do que em piadas inteligentes sobre os clichês dos contos de fadas.
A cinematografia e o design visual do filme merecem destaque. A DreamWorks Animation aprimorou sua tecnologia, criando cenários detalhados e uma estética inspirada no Velho Oeste e em filmes de capa e espada. A animação é fluida, especialmente nas sequências de ação, como as lutas coreografadas entre Gato e Kitty ou a perseguição com a Mãe Gansa. O uso do 3D é bem aproveitado, adicionando profundidade às cenas e aumentando a imersão do espectador. O design dos personagens também é um ponto forte, com expressões faciais detalhadas que amplificam o humor e a emoção da narrativa.
A trilha sonora, composta por Henry Jackman, mistura influências latinas com uma abordagem épica, refletindo o espírito aventureiro do filme. O uso de guitarras flamencas, violinos e percussões remete à cultura espanhola e complementa a persona de Gato de Botas. Embora a trilha seja eficaz e contribua para a ambientação, não possui canções icônicas ou memoráveis como as presentes nos filmes de Shrek, que utilizavam músicas pop e rock de forma marcante.
O desfecho do filme enfatiza a redenção de Gato e sua jornada para se tornar uma lenda. Após perceber a ameaça que Humpty representa para a cidade, ele toma a decisão de enfrentá-lo e impedir que o caos se instale em São Ricardo. No clímax, Humpty, ao se sacrificar para salvar o filhote da Gansa, revela sua verdadeira forma dourada, simbolizando sua transformação e o impacto que ele teve na vida de Gato. O final estabelece uma ponte para futuras aventuras, deixando claro que o protagonista continuará sua jornada em busca de novas histórias.
No geral, Gato de Botas é um filme visualmente impressionante e bem-executado, com uma narrativa divertida e personagens carismáticos. Apesar de não possuir a mesma inovação e sátira afiada de Shrek, ele consegue se destacar como um filme de aventura envolvente, sustentado pela performance magnética de Antonio Banderas e pela qualidade técnica da animação. Seu sucesso comercial demonstra a força do personagem, o que levou à produção de uma sequência, Gato de Botas 2: O Último Pedido, que expandiu a mitologia do personagem de maneira ainda mais ousada e emocional. Embora o filme de 2011 não tenha alcançado o mesmo status cult dos primeiros Shrek, ele se estabelece como uma derivação competente e um entretenimento sólido dentro do universo da DreamWorks.