Iniciar uma análise sobre “Brüno” é tão complexo quanto o filme. O longa-metragem de 2009
dirigido por Larry Charles foi escrito por quatro roteiristas, sendo um deles a estrela da obra e um
nome que sempre nos chama atenção nos projetos que está envolvido, estamos falando de Sasha
Baron Cohen.
Como premissa, acompanhamos a trajetória de Bruno, um austríaco, hiperativo e homossexual que
possui de forma visível certos distúrbios de egocentrismo, ele busca se tornar a maior estrela do
mundo através do lançamento de um programa de entrevistas com famosos, nesse decorrer se
envolve em situações problemáticas que carregam toneladas de camadas narrativas e críticas.
Normalmente quando buscamos assistir filmes de comédia, nossa cabeça vai atrás de uma válvula
de escape para nos divertirmos, porém, em “Brüno” nos chama muita atenção quando ele busca não
se limitar à apenas risadas e traz de forma ácida uma diversidade de debates sobre tópicos
extremamente fortes e pesados.
Diferente de outras obras do mesmo gênero que trazem os personagens gays como uma caricatura
criada pela indústria apenas em tom humorístico, aqui ela é fundamental para que às críticas que o
filme se propõe a fazer funcionem e não se limitem apenas ao superficial.
Inicialmente a sensação é que vemos observar um tema que já foi abordado em outros milhares de
filmes que é a sede pela fama, e o quão triste são às vidas de milhares de pessoas que se submetem
ao mesmo que o personagem, mas isso é apenas um gatilho para todos os assuntos são buscados
trazer, como, por exemplo:
A homofobia no mundo dos famosos, às celebridades que adotam crianças africanas por pura
publicidade, a luta dos homossexuais para serem aceitos nas grandes mídias, enfim, sobram socos
no estômago para todos os lados.
Os ataques aos religiosos também não passam batido, uma cena extremamente impactante é a que
o personagem entrevista israelitas e palestinos, ambos abominam a homossexualidade, porém o
ódio entre as doutrinas é tão grande, que eles preferem ficar ao lado de algo que são totalmente
contra do que olhar no olho do outro.
Além de carregar tudo citado acima, sentimos que existe uma crítica em especial, que é nos
apresentar a visão de um estrangeiro chegando à sociedade americana, um lugar que temos
conhecimento do quão tóxico, problemático e preconceituoso ele é, mas que se vende como a maior
maravilha do planeta para o resto do mundo.
A princípio tecnicamente o filme não aparenta encher os olhos, porém ao ser analisado
profundamente percebe-se que ele carrega alguns pontos interessantes, o estilo de como a câmera
se porta com o forte uso do zoom in e zoom out relembra alguns programas de televisão
americanos e isso casa bem com a estética de falso documentário proposta pelo diretor. Essa
combinação também funciona bem com toda a mise en scène da obra.
É compreensível também entender que Brüno abre alas para ser odiado, assim como às outras
obras da dupla Larry Charles e Sasha Baron Cohen. As piadas são extremamente pesadas e sem
nenhum filtro ou limite, e podem soar ofensivas a ponto de atingir muitos públicos de forma
negativa, porém acreditamos que nada que está colocado em tela foi posto apenas para chocar
gratuitamente, pois a quantidade de camadas da obra é gigantesca e geram muitos debates que não
são possíveis ser resumidos de forma fácil.
Por fim, temos aqui uma obra polêmica, interessante, conflituosa e que vai para a lista dos filmes
que ou você vai amar, ou queimará o DVD de ódio.
Crítica produzida por Jonathan Freitas de Alcantara & Alex Alves Brito.