FILME O SANTUÁRIO E A LEI DA SOBREVIVÊNCIA DA CIENTOLOGIA
Mergulhar em águas no fundo de cavernas parece meio loucura – mas é disso que esse filme trata. Depois do diretor de Exterminador do Futuro, Alien - O oitavo passageiro, Titanic e Avatar, vemos agora James Cameron nessa nova empreitada, ou seja, no mergulho. Mas esperava eu muita aventura no fundo das cavernas, alguma novidade, talvez um ser de outro mundo, um “avatar”, ou um robô vindo do futuro, mas nada encontrei de extraordinário. Fica a emoção de um filme unicamente iluminado por lanternas e com muito contraste, bom para se testar a qualidade da imagem das TV's. O som não impressiona, nem parece ser em 6 canais. De novo tem a ética defendida em caso de emergência – sobrevive o mais forte ou o mais capaz. De longe isso me lembrou Darwinismo e ainda a filosofia da Cientologia, seguida por muitos atores “hollywoodianos”, pela moda mesmo. A lei da sobrevivência é o centro da “fita” (só eu e o Zé do Caixão que ainda falamos “fita”...). Mas o filme vale a locação, para quem deseja algo mais racional e realista.
O filme até no começo tem uma diversidade de temas, uma boa fotografia, animações de computador (CG), até a entrada na dita caverna. Segundo comentários de produtores, a caverna é outra, e as filmagens de helicóptero são mesmo de helicóptero. Depois na entrada que é “montagem”. Falando em montagem, para quem ver o filme e pensar: “onde ficam as tais cavernas?”, vai se decepcionar, pelas mesmas serem também em verdade uma piscina, e mais um outro lugar onde mergulham, bem menos expressivo, e ainda um quarto de estúdio e uma espécie de grande cilindro, por onde cai a água. No mais a “fita” tem momentos de desafio, um dos membros pega a doença da “descompreensão”, e assim morre no caminho. Outros vão morrendo, um a um (vários filmes têm essa temática...como O Cubo, série Alien, série Predador, 9 Vidas e outros menos conhecidos, muitos de suspense).
Fato é que o líder do grupo em qualquer dúvida preserva a sua vida para sacrificar a de alguém, se faltar oxigênio, equipamento ou ameaçar o grupo. A lei da sobrevivência é assim a tônica, e o que nós juristas chamamos de “estado de necessidade”, que é protegido por Lei, a Lei que não defende a covardia, como li em um autor de Direito Penal. Isso é materialista, nada espiritualista, uma vez que em oposição vem a “lei do sacrifício”, lição dos mestres e adeptos, em especial de Cristo Jesus (Yeshua), onde há uma vida maior, além do mero corpo animal. E o roteiro se desenrola nessa aula de mergulho, com os equipamentos, cuidados especiais, regras em situações de emergência, e a relação de conflito pai e filho. Essa temática edípica novamente, e por fim acabam por se entender ambos, superando assim a dinâmica do macho alfa. Mas vale lembrar da lei de sobrevivência, principal doutrina da Cientologia, mais os mil questionários que se responde, em oposição a lei do sacrifício, tão ensinada pelos santos ao longo da história, como Santa Tereza, Santa Catarina, mesmo de outros cultos, como Gandhi e muitos outros. A lei do sacrifício é espiritualista, e podemos pensar na chave do Tarô do enforcado para simbolizar essa dinâmica para os iniciados e adeptos da senda mística. Já a lei da sobrevivência é uma visão do nosso tempo, de um psicologismo ateu, materialista e sem qualquer perspectiva metafísica. O filme é assim um mergulho nesse materialismo e mostra até onde nossa sociedade pós-moderna se afoga e se cega em suas cavernas envoltas de pedras e enganos. E a frieza, a frieza é um santuário – ou um purgatório...
Enfim, nenhuma grande emoção, nem avatar de outro mundo, ou exterminador robô do futuro, ou grande navio afundando, o filme ficando assim na tranquilidade do mergulho em contraste com as dificuldades do caminho, por ter de se procurar uma saída alternativa depois da grande chuva que ocorreu. Parece também um dilúvio, um mito renovado dessa perspectiva, e o Noé no fim existe. A dimensão ética é interessante, um “salve-se quem puder”, sem caridade cristã, sacrifício (a não ser a moça que presa pelo cabelo, o corta..), sem grande coletividade. A lógica ocidental é individualista e utilitarista. Esse filme mostrou o que somos, fez das águas que repousam em profunda caverna um espelho a hipocrisia. No mais não há grandes frases no roteiro, nem muita filosofia, apesar da relação de choque entre os mergulhadores e exploradores ser uma novidade no ambiente onde estavam. Há um outro filme de caverna (algo com “Inferno” no título), onde mulheres exploram e ficam presas, encontrando um ser primitivo e canibal, que foi um filme para mim mais emocionante. Mas aqui há apenas o mergulho e a descoberta dessa nova face das profundezas e entranhas da Terra, bem como as profundezas da psicologia humana, com sua lei da sobrevivência – tão forte quanto a sua sensível vida material e corporal
(Mariano Soltys, autor do livro Filmes e Filosofia, pela editora Clube de Autores)