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    Elsa & Fred - Um Amor de Paixão
    Críticas AdoroCinema
    4,5
    Ótimo
    Elsa & Fred - Um Amor de Paixão

    Sob a aura de Anita

    por Francisco Russo

    Por mais que a população esteja cada vez mais envelhecida, o cinema ainda é feito principalmente para os jovens. São eles que formam a maior parte dos espectadores de cinema, o que de certa forma explica o porquê da ausência de boas histórias envolvendo a terceira idade. Entretanto, de tempos em tempos alguém se aventura neste período da vida, proporcionando ao espectador a chance de refletir sobre os diferentes meios de encarar a proximidade da morte. É o que acontece no delicado Elsa & Fred - Um Amor de Paixão.

    A história é, de certa forma, simples: viúvo há apenas sete meses, um homem se muda para um novo apartamento. Lá conhece uma senhora, de idade parecida à sua, com quem se afeiçoa. É claro que eles irão se envolver, mas o que realmente importa é como se dá este processo. Ela disposta a viver, mesmo que para tanto cometa uma ou outra loucura. Ele temeroso e sensato, sempre querendo saber onde pisa antes de dar qualquer passo. Estes diferentes modos de pensar a vida inevitavelmente colidem, com o peso trazido pelo fim inevitável. Afinal de contas, ambos não são mais garotinhos para fazer planos auspiciosos para os anos vindouros. Eles precisam viver o momento, aqui e agora, seja lá como for – o futuro pode ser no máximo imaginado como algo próximo, nada muito além disto.

    É justamente esta percepção sobre a importância do momento um dos pontos mais reflexivos deste trabalho do diretor Marcos Carnevale, do recente Coração de Leão - O Amor Não Tem Tamanho. Entretanto, o que realmente cativa é a atuação soberba da dupla China Zorrilla e Manuel Alexandre. Ela batalhadora e às vezes se enrolando em suas próprias histórias, mas sempre mantendo uma veracidade absurda em suas crenças. Ele como um senhor melancólico que, aos poucos, reaprende a sorrir. Ambos exalando emoção no olhar, em determinadas cenas de forma desconcertante. O amor na terceira idade, apresentado de forma terna e suave por um casal que exala veracidade – no que representa, no que é de verdade. Visto hoje, o filme ganha ainda mais relevância pelo fato de que eles já faleceram, curiosamente ambos aos 92 anos. Ou seja, o filme em si é mais uma representação da urgência em viver que a própria história aborda.

    Para completar, há ainda uma pitada de devoção ao cinema. A Doce Vida, clássico absoluto de Fellini, surge como o sonho inatingível envolvendo a consagrada cena de Anita Ekberg na Fontana di Trevi. Muito bem dirigido e com uma narrativa que dá tempo para que o relacionamento de seus personagens principais se desenvolva, Elsa & Fred é um filme que emociona e permite o sonho: quem não gostaria de chegar à idade destes senhores com tamanha vontade de viver? Para ver, sentir e se emocionar.

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