“Numa toca no chão vivia um Hobbit”. Com essa simples introdução, um dos povos mais interessantes e carismáticos da grande mitologia criada por Tolkien foi apresentado no livro infanto-juvenil “O Hobbit”.
Publicado há 75 anos, o sucesso da obra foi alcançado já em sua época, o que resultou num pedido dos editores por uma sequência (“O Senhor dos Anéis”), essa que se tornaria uma das sagas mais populares da história, responsável pela consagração de Tolkien e com grande admiração por uma legião de fãs no mundo todo.
Foram necessários nove anos após o fim da trilogia “O Senhor dos Anéis”, que ao todo venceu 17 Oscars e arrecadou quase 3 bilhões de dólares, para que o passado da saga pudesse sair do papel e ganhar as telas.
Pendências judiciais e autorais, atrasos e mais o fator de a trilogia “O Senhor dos Anéis” ter sido lançada em ordem cronológica inversa foram acontecimentos extremamente favoráveis, principalmente para que os estúdios percebessem a mina de ouro que tinham em mãos e que uma nova jornada pela Terra-Média era mais do que esperada!
Com co-produção da New Line/Warner e a MGM, a volta de Peter Jackson que inicialmente seria somente como produtor e roteirista e a escolha de Guillermo del Toro para a direção só fizeram as expectativas crescerem, mas o atraso na produção culminando com a saída de del Toro e o retorno de Peter Jackson a direção, acabou sendo mais um problema que veio a ser positivo, já que Peter e equipe já viveram imersos naquele mundo e toda a experiência e o respeito adquiridos são visíveis em cada detalhe da produção.
Originalmente seria feito apenas um longa-metragem, mas para surpresa de todos foi anunciada mais uma trilogia, que claramente foi aprovada visando os lucros que mais dois filmes viriam a ter, mas felizmente Tolkien deixou um vasto material adicional e com isso o quarteto de roteiristas formado por Peter Jackson, Fran Walsh, Philippa Boyens & Guillermo del Toro puderam ampliar a história da melhor maneira possível, com o retorno de personagens queridos e a apresentação de novos, combinando perfeitamente momentos leves e engraçados com outros mais épicos e isso sem contar nos excelentes diálogos.
As referências a trilogia “O Senhor dos Anéis” são evidentes e deixam clara a intenção de tornar as duas trilogias em uma hexalogia.
Revisitando seus papéis destaco Sir Ian Mckellen (Gandalf) sempre brilhante e dominador nas suas cenas, Cate Blanchett (Galadriel) com grande talento e beleza, Christopher Lee (Saruman) todo imponente no alto de seus 90 anos, Andy Serkis (Gollum) brilha mais uma vez em um dos grandes momentos do filme e as ótimas participações de Hugo Weaving (Elrond), Sir Ian Holm (Bilbo quando idoso) e Elijah Wood (Frodo).
Dos estreantes, Martin Freeman (Bilbo quando jovem) merece ser elogiado, já que pegou um personagem que já havia sido visto antes e deu conta do recado com uma irretocável atuação, Richard Armitage (Thorin Escudo-de-Carvalho) dá toda seriedade e autoridade que seu personagem precisava e por fim Ken Stott (Balin) dando brilho ao mais velho dos 13 anões.
Os anos que separaram as duas trilogias se destacaram pelas inovações tecnológicas no cinema, primeiro pelo retorno e popularização do 3-D e depois pelo anúncio que “O Hobbit” seria filmado em 48 fps ao invés dos tradicionais 24 fps.
Falando em avanços, eles são visíveis também em todos os efeitos visuais empregados no filme, principalmente em detalhes como texturas, expressões e movimentos como no Gollum, que se antes já era tido como uma das maiores criações digitais, agora ninguém duvida de tal conquista.
O trio de maquiadores (Peter King, Rick Findlater & Tami Lane) fez um trabalho magnífico e de um realismo absurdo, principalmente notável nos anões.
A Direção de Arte (Dan Hennah, Ra Vincent & Simon Bright) aliada aos efeitos visuais (dos técnicos: Joe Letteri, Eric Saindon, David Clayton & R. Christopher White) recriaram lugares vistos anteriormente como o Condado, Valfenda e nos deixaram de queixo caído com a beleza da cidade de Valle e toda a majestade de Erebor, o reino dos anões.
Mais uma vez o cenário natural da Nova Zelândia favoreceu o trabalho do diretor de fotografia Andrew Lesnie, com os mais belos ângulos de sua câmera.
A trilha sonora de Howard Shore evoca a trilogia “O Senhor dos Anéis”, mas tem seus momentos de leveza e inocência na medida certa e um dos grandes momentos é o da bela canção “Song of the Lonely Mountain”.
Foi indicado para 3 Oscars (Direção de Arte, Efeitos Visuais & Maquiagem) merecia ter levado os três, mas nem por isso perde a excelência e a beleza do imenso trabalho de todos os envolvidos na construção de um belíssimo e espantoso mundo.
O custo da produção ou das produções, já que foram filmadas de uma vez só, não foram divulgados, mas certamente a bilheteria de mais de 1 bilhão de dólares é merecida e mais que suficiente para cobrir os gastos.
Não posso opinar sobre a experiência em ver em 48 fps, já que não foram todos os cinemas que exibiram desta forma, mas a imersão e perfeição do 3-D são dignas de cada centavo e minutos de projeção.
Um belo começo para mais uma trilogia do diretor Peter Jackson e mais dois anos de ansiedade pela frente pelo término da saga.