Durval (Ary França) é proprietário de um loja de discos de vinil no bairro de Pinheiros em São Paulo. Mora no local de trabalho com a sua mãe, dona Carmita (a excelente Etty Fraser). Durval tem o aspecto de roqueiro dos anos 70. Ele recusa a aceitar a tecnologia moderna. Comerciar cds, então, seria uma blasfêmia. Sua loja vive às moscas. Vez por outra aparece algum freguês de trejeitos bizarros, como a personagem interpretada por Rita Lee e o fanático por reggae, Fat Marley (André Abujamra). Dona Carmita claramente ressente-se do fato de Durval não lhe ter dado um neto. Essa lacuna é preenchida quando a empregada contratada por Durval, Célia (Letícia Sabatella), pelo salário de R$ 100,00, traz às escondidas uma menina, Kiki, para o interior da casa do nosso protagonista. Nessa altura, a trama toma um rumo radicalmente diferente. As virtudes do filme da diretora que também foi moradora do bairro de Pinheiros, Anna Muylaert, são a abertura (feita numa tomada única e com a câmera na mão), o tema principal, no qual um indivíduo tem dificuldades de se desvencilhar do passado e de assimilar o novo e a utilização de uma trilha sonora composta de clássicos da MPB da década de 70 (Novos Baianos, Luiz Melodia, Jorge Ben e do maior de todos, Tim Maia), além da música de abertura, Mestre Jonas, dos Mulheres Negras. Tivesse Anna Muylaert se limitado a fazer um perfil das "figuras" que costumam pulular por ambientes como o de "Durval discos", acertaria na mosca em cheio. Teria feito uma comédia de costumes originalíssima. Como a opção de Muylaert foi mostrar os desvarios de dona Carmita, a diretora deu um tiro no próprio pé, fazendo um clichê do clichê do clichê, como diria o poeta.