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Adriano Côrtes Santos
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5,0
Enviada em 18 de maio de 2019
Dirigido por Clóvis Bueno e Paulo Betti em 2005, Cafundó é uma crônica romanceada inspirada na vida real de João Camargo (Lázaro Ramos), homem simples e ingênuo. Preto velho milagreiro ele viveu no Brasil no final do século XIX e início do século XX, em Sorocaba, ponto principal do caminho das tropas que integrou as regiões Sul e Sudeste do Brasil. Escravo liberto, João de Camargo sofreu o impacto do advento da modernidade e suas transformações políticas e econômicas, com a chegada da abolição, da república, da luz, do rádio e da industrialização. João encontra sua fé e salvação em um credo que é um cruzamento entre suas raízes africanas e as raízes judaico-cristãs prevalecentes. João começa a acreditar que pode ver Deus e que sua missão na terra é curar pessoas. Um filme fundamental para se conhecer o contexto do sincretismo religioso afro no Brasil. Elenco bem equilibrado com participações eficientes. No Festival de Gramado 2005, venceu nas categorias de Melhor Ator (Lázaro Ramos), Melhor Direção de Arte e Melhor Fotografia.
O ator e agora diretor Paulo Betti há muito nutria o sonho de transpor para as telonas as lendas envolvendo o Nhô João, ou melhor, João Camargo (Lázaro Ramos) na sua cidade natal, Sorocaba. A biografia de João Camargo é iniciada na época em que a Princesa Isabel libertou os escravos. O então jovem João Camargo é levado por falta de opção a se alistar e participar de uma guerra ao lado dos republicanos. Nesse período conheceu as inovações tecnológicas da época, como os trens, além da cidade grande. João Camargo bem que tentou arrumar emprego, mas não conseguiu. Passava as noites bebendo na companhia de um amigo. Foi nesse período que João conheceu Rosário (a gaúcha Leona Cavalli), por quem se apaixonou e se casou. Eu fico imaginando cá com os meus botões como é que deve ter sido a barra em termos de pressão social para um casal formado por um homem negro e uma mulher branca. O problema é que Rosário não conseguia se resguardar dos prazeres carnais, fato que culminou com a separação do casal. Os poucos minutos que Leona Cavalli está em cena são memoráveis. Quando ela incorpora um espírito na praia, parece que estamos diante de uma mãe de santo de longa experiência. Daí em diante, João Camargo direciona a sua vida para a criação da Igreja da Àgua Vermelha. As alucinações o impulsionaram na sua luta para a criação de uma Igreja que conservava influências africanas na sua base, adicionando algumas características do catolicismo. Como o protagonista diz numa de suas prisões, quando foi questionado por vilipendiar as religiões africanas: "Há um oceano que separa a Àfrica do Brasil. Nós não estamos na África". O sociólogo Florestan Fernandes, que foi professor titular da faculdade de Ciências Sociais na USP até 1995, quando veio a falecer, estudou a vida e a obra de João Camargo. Ele é um dos homenageados pelo diretor Paulo Betti, que fez um belo filme mostrando um sincretismo religioso tipicamente brasileiro, que teve o mérito de escolher o ótimo Lázaro Ramos que dá um show no papel do milagroso líder religioso que a tantos sociólogos influenciou.
Belíssimo filme;trata muito bem como e quando se deu a abolição da escravatura, sensacional, Paulo Betti, sobe retratar a marginalização dos negros, a violência, racismo e o darwinismo social que imperava na época;com o projeto da elite branca de "branquear" o Brasil a qualquer custo. Aborda também a religião de matriz africana sincletizada ao catolicismo e espiritismo kardecista. Sem falar no elenco de primeira linha de atores e atrizes. Super recomendado,até mesmo como um pedaço da história de nosso país.
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