SANGUE E PORRADA NA MADRUGADA
por Roberto CunhaSe Você faz parte daquele grupo que torce o nariz para o cinema de ação ou, pior, acha que só os americanos sabem fazer, lembre-se que títulos europeus já provaram o contrário. Agora, o brasileiro Erik de Castro, estreando na direção de um longa, dá conta direitinho do recado com Federal, coprodução Brasil, França e Colômbia.
Na história, três agentes federais e um PM trabalham empenhados no combate ao tráfico de drogas em Brasília. Com personagens que vivem conflitos pessoais relacionados a corrupção, casamento, bebidas, drogas e até uma gravidez desejada, a trama joga no ventilador que o crime não é alimentado apenas pelos “hermanos” da América Latina.
E ainda bota ONGs, igrejas e políticos brasileiros no mesmo saco. Literalmente. Ou seja, não é filme de heróis surreais. Aliás, diga-se de passagem, o real está presente sob vários aspectos. Desde o som dos muitos tiros disparados até as cenas de sexo e nudez, onde o beijo técnico passou longe.
Embora os diálogos e o conteúdo do filme não sejam o supra sumo da inteligência, funcionam, e as sacadas existentes são bem legais. E vão desde frases tiradas de letras de Lobão e Titãs, até detalhes como o nome do vilão ser Beque (apelido do cigarro de maconha), de um dos heróis ser Vital (personagem do primeiro sucesso do Paralamas do Sucesso) ou a singela presença de uma Brasília amarela no meio de um tiroteio. Seria uma alusão a capital novamente ou uma homenagem ao Mamonas Assassinas?
Sem delinear claramente quem é o personagem principal, no elenco de rostos conhecidos figuram Carlos Alberto Ricelli e Selton Mello, mas existe uma leve puxada de brasa para a sardinha de Dani (Mello), um policial dividido entre o prazer e o dever. E se os mais exigentes acharem até que o ator não ficou muito a vontade com as armas, o resultado final não compromete.
Além da música da Plebe Rude, nascida no planalto central dos anos 80, a trilha incidental tem climão desde o início e as variantes seguintes, mesclando berimbau e guitarras são eficientes.
Entre as curiosidades, uma Miss Colômbia, fazendo papel de uma venezuelana “mui caliente”, a participação do americano Michael Madsen (Cães de Aluguel) e do cantor Eduardo Dussek como vilão, sapecando humor do tipo: “Se tem uma coisa que dá certo neste país é o crime”.
Sem pretensão de ser obra prima, Federal tem valor como entretenimento de qualidade indubitável. Tem começo, meio e o final, para os mais atentos, deixa uma portinha aberta para uma sequência no melhor estilo do tão adorado por uns, e execrado por outros, cinemão americano. Divirta-se com sangue e porrada na madrugada.
Em tempo: Federal foi rodado em 2006 e o roteiro é anterior ao sucesso Tropa de Elite e sua sequência. Portanto, evite comparações. Assista ao trailer em Federal.