“Eu não sou um herói”, diz serenamente o interessante personagem de Tom Cruise em um momento de “Jack Reacher – O Último Tiro”. Tal frase, facilmente, nos transmite a proposta do novo longa produzido e estrelado pelo ator: utilizar clichês de maneira inteligente acerca de uma envolvente trama que, ao ser moldada pela precisa direção de Christopher McQuarrie, constrói um eficiente filme de ação.
Jack Reacher (Tom Cruise), um ex-militar veterano que virara andarilho, tem suas “férias” interrompidas em Miami, quando vai ajudar a resolver um caso mal explicado em Indiana, onde um atirador abriu fogo contra cinco pessoas. Preso, o criminoso recusa-se a dar qualquer informação e apenas murmura a frase: "Traga Jack Reacher para mim".
Contando com uma introdução com qualidade acima da média para um longa genérico, o bom roteiro – também de McQuarrie – não perde tempo e logo nos apresenta ao protagonista que Tom Cruise faz questão de encarnar com sutileza e bom humor, o que, mesmo não sendo nada original, o astro faz muitíssimo bem – e, sinceramente, eu não seria capaz de mencionar outro ator que pudesse interpretar o militar veterano com tanto êxito igual a Cruise. Ou seja, nem precisar dizer que ele rouba o filme para si com suas nuances divertidíssimas que, ao mesmo tempo em que nos faz rir, embala o filme sem dificuldades.
Então, após o ótimo primeiro ato, Jack Reacher começa a desvendar o crime com a ajuda de uma advogada bela e persistente (interpretada por Rosamund Pike), com quem, inclusive, começa a ter um tipo de “química” que certamente causará um romance nas possíveis (leia-se: quase certas) continuações – embora o filme tenha tido uma passagem bem discreta nos cinemas americanos e uma repercussão crítica bem mediana por lá. Assim eles vão a fundo nas investigações de modo aguçado e intrigante; porém devo dizer que, pouco a pouco, a trama se complica desnecessariamente ao acrescentar vários elementos dos quais vão tornando o enredo um tanto quanto enigmático e nebuloso. Mas, mesmo assim, a narrativa se desenvolve de maneira natural e empolgante.
E, como não poderia ser diferente, o longa conta com vibrantes sequências, rodadas habilidosamente pela competente equipe de McQuarrie (destaque para o diretor de fotografia Caleb Deschanel), com direito a eletrizantes perseguições de carro e, claro, bandidos levando surra em grupo pelos poucos e precisos golpes do calmo Jack Reacher, sempre com poucas palavras. Vale mencionar, também, as boas participações de Richard Jenkins, Robert Duvall (sim, ele mesmo) e Werner Herzog, que faz um vilão plenamente satisfatório.
O terceiro ato do filme, porém, imprime uma maior tensão à narrativa, principalmente no convincente clímax muito bem amarrado pelo roteiro – apesar de óbvio. Então, deixando a entender uma continuação, Christopher McQuarrie conclui “Jack Reacher – O Último Tiro” da mesma maneira que o iniciou: reutilizando clichês não de modo irritante, mas, sim, a seu favor, tornando o eficiente filme mais eletrizante, empolgante e divertido.
Vale a pena a conferida!