As telenovelas brasileiras são mais do que o maior produto de exportação da cultura nacional. Elas são uma verdadeira crônica da vida cotidiana dos brasileiros. Sem fazer distinção de raça, classe social, opção sexual, entre outros, as novelas contam histórias de apelo popular e que poderiam acontecer a qualquer um de nós. O resultado é o ajuntamento de milhões de pessoas em frente a uma pequena tela, ansiosas para saber o que irá acontecer nos próximos capítulos do folhetim. O filme “Bendito Fruto”, do diretor Sérgio Goldenberg, transporta as novelas para uma outra (e maior) mídia – a do cinema – e faz do público noveleiro o protagonista de sua história.
No filme, o cabeleireiro boa-praça Edgar (Otávio Augusto) é o bendito fruto, que vive rodeado por mulheres bastante diferentes, mas que possuem uma característica em comum: todas elas são sonhadoras. Edgar divide sua casa com Maria (Zezeh Barbosa), a quem conhece desde a infância, e é o seu primeiro amor. Os dois vivem um relacionamento amoroso desde que se entendem por gente, mas Edgar esconde a relação de todos – ela é negra, e ele evita sair com ela em público, preferindo apresentá-la como a sua empregada. No salão de beleza que herdou do pai, Antonio, Edgar trabalha com duas ajudantes (interpretadas por Lúcia Alves e Camila Pitanga), que brigam muito, mas no fundo se adoram.
As três mulheres da vida de Edgar vivem seus sonhos através da novela “Primeiro Amor”, estrelada pelo galã Marcelo Monte (Eduardo Moscovis), de quem são telespectadoras e fãs assíduas. Inspiradas pela novela, Maria sonha em trazer o filho Anderson, que mora na Espanha, de volta ao Brasil; a personagem de Lúcia Alves sonha em viver um grande amor e a de Camila Pitanga quer ter uma vida de princesa, mesmo que seja ao lado do namorado traficante (Enrique Diaz). A vida de todos eles irá se complicar com a chegada de Virgínia (Vera Holtz), amiga de Edgar dos tempos de colégio, que se muda para a casa do cabeleireiro depois de sofrer um acidente com uma tampa de bueiro (!). A presença de Virginia no cotidiano destes quatro personagens fará com que eles, finalmente, se estimulem a dar um rumo definitivo às suas vidas e comecem a lutar pelos seus sonhos.
Assim como numa novela, “Bendito Fruto” é feito de momentos de amor, ódio, emoção, tristeza, intriga, comédia, certezas, incertezas, mentiras, descobertas e, é claro, será coroado com um final feliz. No entanto, o filme não soube utilizar um recurso que é fundamental para o sucesso de uma telenovela: as narrativas paralelas. Por ter uma história que acaba se ramificando demais, Sérgio Goldenberg acabou se perdendo e não aproveitou a chance de fazer um belo filme. O que é uma pena, considerando a boa premissa de “Bendito Fruto” – o amor inter-racial.