Fazer cinema para os Montenegro Torres virou – literalmente – um negócio de família. Em 2004, Fernanda Torres co-escreveu com o irmão Cláudio Torres o filme “Redentor”, que ele também dirigiu e no qual atuaram a mãe Fernanda Montenegro e o pai Fernando Torres. Em 2005, chegou a vez de Fernanda mãe e de Fernanda filha atuarem juntas no filme “Casa de Areia”, do diretor Andrucha Waddington, que é, respectivamente, genro e marido das Fernandas. No entanto, parece que o negócio familiar vai mal das pernas, uma vez que se “Redentor” foi decepcionante, o mesmo pode ser dito de “Casa de Areia”.
O filme acompanha a história de três mulheres de uma mesma família em gerações diferentes; todas elas interpretadas nos seus diferentes estágios de vida por Fernanda Montenegro e Fernanda Torres, com exceção da atriz mirim Camilla Facundes, que interpreta a personagem na infância. “Casa de Areia” começa em 1910 quando Áurea e Dona Maria, a mãe dela, acompanham Vasco (Ruy Guerra), o marido de Áurea, na busca pelo seu Eldorado. Vasco espera encontrar a riqueza e a prosperidade no local mais inóspito do Brasil: as terras arenosas do Maranhão, que mais parecem um deserto em meio à civilização. Isolados no meio do nada e sem perspectivas de saírem dali, a família (que está prestes a aumentar, pois Áurea está grávida) tem que encontrar uma forma de sobreviver e se adaptar à nova morada.
A adaptação, pelo menos para Áurea, será muito difícil. Ela não aguenta viver isolada e quer criar sua filha na cidade. Mas, para conseguir sair do deserto maranhense, Áurea tem que driblar a resistência do marido e, depois da morte deste, a da mãe. A partir daí, mãe e filha – com a companhia da neta Maria – meio que se conformam com a vida no meio da areia, vão construindo seu patrimônio lentamente e criando uma rotina de atividades diárias com a ajuda de Massu (Seu Jorge quando jovem e Luiz Melodia quando mais velho), um pescador que vive nas redondezas. Porém, a civilização está sempre à espreita e a tentação de voltar para lá será uma vontade sempre presente.
“Casa de Areia” consegue manter o interesse da platéia aceso ao mostrar como Dona Maria e, principalmente, Áurea vão mudando ao longo dos anos e superando os conflitos que as separavam. Pena que a dinâmica existente entre a mãe e a filha no primeiro segmento do filme se perde por completo quando uma velha e cansada Áurea se torna a mãe da – agora – adulta Maria. O toque moderno que o roteiro de Elena Soarez ganha a partir daí é somente o primeiro dos problemas de “Casa de Areia”. O filme tem um ritmo lento por demais, demora uma eternidade para começar e não parece seguir uma linha lógica de pensamento.
Verdade seja dita: fazer um filme que se propõe a contar a história de mulheres de uma mesma família condenadas a viver num lugar aonde não escolheram morar era uma idéia muito cheia de pretensão. Andrucha Waddington fez a sua parte – o filme é lindo visualmente. As duas Fernandas não comprometem – pelo contrário, fizeram um milagre em se tratando do péssimo roteiro. O resultado é que “Casa de Areia” é um representante fiel daquele caso em que existem idéias que parecem melhores no papel e que, quando executadas, perdem a sua força por completo.