Aura, do ponto de vista médico, é um conjunto de fenômenos que precedem uma crise convulsiva de um indivíduo epilético. Ele pode sentir frio, calor, vômitos e também - o que é mais relevante para o filme que ora analisamos - ter alucinações auditivas e visuais. Esse preâmbulo didático feito, tenho de explicar que o protagonista do filme, Esteban (o excelente Ricardo Darín) é um taxidermista meticuloso (outra característica de personalidade do epilético) que vive em Buenos Aires. Seu sonho é realizar um crime perfeito. Quando ele vai a um banco com um amigo, ele dá todos os detalhes necessários para que o assalto desse certo. Esse amigo o convida para um final de semana dedicado à caçada de alces na Patagônia. Esteban reluta inicialmente, mas ao se aperceber que a esposa o deixara, concordou em viajar para o sul da Argentina. O grande planejador de crimes ao pegar numa arma para matar um cervo, por engano, acaba por matar no meio da mata o dono da casa em que ele estava hospedado. O nome do assassinado: Dietrich. Não, não era Marlene, muito pelo contrário, maltratava a esposa e tinha elaborado um plano para o assalto de um carro forte que levava o dinheiro do cassino da região. Como o plano estava delineado no papel e caiu nas mãos de Esteban, pronto, aí estavam todos os ingredientes para que o sonho do nosso taxidermista se tornassem realidade. Com relação a aura epilética, o diretor e roteirista Fabían Belinsky, que infelizmente faleceu de infarto quando estava promovendo o filme em São Paulo, tomou a liberdade artística de colocar os momentos que precediam a crise convulsiva como os de total liberdade na vida do nosso protagonista. Não haveria indecisão, dúvida, detalhe, simplesmente um momento de profunda liberdade. Um thriller psicológico de primeira grandeza, realizado com maestria e por um diretor que conhecia a linguagem cinematográfica como ninguém. Outro filme de Bielinsky que está nas locadoras é "9 RAINHAS". Não percam nenhum dos dois.